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Seca no Amazonas: empresas da Zona Franca sofrem impactos na produção e avaliam férias coletivas


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O estado do Amazonas passa por uma seca histórica.  O Rio Negro, por exemplo, atingiu o menor nível em Manaus desde 1902, segundo dados da ANA (Agência Nacional das Águas e Saneamento Básico). Por utilizar os rios como estradas, as grandes empresas da Zona Franca de Manaus estão tendo prejuízos, tanto para o recebimento de insumos quanto para o escoamento da produção industrial.

“Temos estimativas de um impacto próximo de 50% no comércio fluvial e a parada completa da navegação de cabotagem na cidade de Manaus”, afirma Dodo Carvalho, presidente da Associação Dos Armadores De Navegação De Rios (ABAC).

A logística da Zona Franca hoje é realizada 95% via transporte fluvial, sendo que 70% chegam por navio e o restante via balsa que leva carretas e contêiners, afirma Carvalho. “Os eletroeletrônicos que estão mais em falta são os de origem da Ásia, porque os navios estão deixando as cargas nos portos do Panamá e Vila do Conde, no Pará.”

Apesar de o Rio Negro ter apresentado a seca histórica neste ano, Carvalho acredita que os maiores problemas estão nas hidrovias do Rio Madeira e do Solimões/Amazonas. “Estes são os rios que conectam as principais cidades da região amazônica. O Rio Amazonas também é importante, porque abriga a navegação de cabotagem, a qual teve suas atividades paradas por conta dos níveis atuais.”

Uma alternativa de emergência é a dragagem dos rios, e por isso o governo federal anunciou nesta quarta-feira mais de R$ 100 milhões para o serviço de dragagem do Rio Amazonas. Os serviços devem começar até sexta-feira, 20, segundo o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e irá permitir com que os rios tenham a profundidade ideal para a chegada dos navios.

O desafio das empresas: produção para o Natal 

A produção das empresas da Zona Franca não parou e os estoques estão acumulados. “Da mesma forma que não entrou mercadorias, também não saiu”, afirma Serafim Côrrea, secretário de desenvolvimento social do estado do Amazonas.

A produção do Black Friday está garantida e já foi entregue para muitas redes de várias regiões do Brasil, a preocupação agora é com a produção do Natal, afirma Jorge Nascimento, presidente executivo do Eletros, associação das principais fabricantes de eletroeletrônicos.

“A seca não deve impactar em relação à produção e preços do Black Friday, as redes já estão abastecidas para o fim de novembro, afinal, antecipamos a entrega. O risco é o Natal, mas ainda é prematuro para falar que não terá abastecimento.”

A Zona Franca de Manaus é o maior centro eletrônico do Brasil, responsável 100% pela produção de ar-condicionado, de televisores, máquinas de lavar louça e microondas. Boa parte dos equipamentos eletrônicos como celulares (30%) e fones e relógios inteligentes (40%) são produzidos em Manaus, assim como 80% das bicicletas. “São 26 setores econômicos na zona, que gera mais de 500 mil empregos em um estado de 4 milhões de habitantes,” diz Nascimento.

Alguns insumos não estão chegando, como resina para fazer as peças plásticas, chapas de aço, chips e matéria-prima para as embalagens, afirma o presidente da Eletros. “Com essa falta de insumos, algumas empresas tiveram suas produções prejudicadas e algumas pensam em adiantar as férias coletivas.”

Férias coletivas antecipadas e impactos na produção

As férias coletivas na Zona Franca de Manaus são comuns nos primeiros dias de janeiro, porque o volume de produção costuma ser muito alto entre novembro e dezembro e baixo no primeiro mês do ano, mas com a dificuldade logística causada pela seca, algumas empresas estão avaliando adiantar esse período de descanso para outubro ou início de novembro.

“Mais de 30 empresas mandaram comunicado para o sindicato sobre a situação de falta de matéria-prima por causa da seca e por isso estão enviando antecipação de férias ou compensações que variam de 5 a 15 dias. Estimamos que cerca de 15 e 17 mil profissionais farão essa pausa,” afirma Valdemir Santana, presidente da Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos no Amazonas).

A empresa Mondial, que comprou a fábrica da SONI em Manaus em 2021, produz na Zona Franca a caixa de som e a TV Aiwa. Por causa da seca, Giovanni M. Cardoso, cofundador do Grupo MK (Mondial, AIWA, XZone e Movitec) está prevendo uma perda na produção no próximo mês, mas como estavam prevendo essa crise, conseguiram se programar:

“Antecipamos as compras de componentes para a produção de julho a outubro. Em novembro vamos ter uma pequena perda de 20%, porque a seca se antecipou uns 15 dias, mas em dezembro, com os rios cheios, estaremos com a produção normalizada,” diz o cofundados da Mondial, que reforçou que não será necessário férias coletivas neste ano.

A Philco também está sofrendo impactos em sua produção por causa da seca e não descartam a possibilidade de implementar férias coletivas, caso seja necessário:

“De uma forma geral, como as demais indústrias da Zona Franca de Manaus, a reposição de todos os nossos insumos está paralisada desde as primeiras semanas de outubro devido ao comprometimento da navegabilidade causado pela seca. Com isso, prevemos um impacto no faturamento, por causa da falta de componentes e do alto estoque de produtos acabados. Ainda não definimos, mas caso seja necessário, podemos implementar férias coletivas,” afirma Cristiane Clausen, diretora executiva Philco.

Entre as empresas que decidiram antecipar as férias coletivas estão Yamaha e Samsung, segundo o presidente da Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos no Amazonas).

Procurada, a Yamaha confirma em nota as férias coletivas em novembro. “Diante do agravamento do cenário de estiagem dos rios da Bacia Amazônica, e consequente dificuldade na chegada de insumos e escoamento da produção, informamos que a Yamaha Motor da Amazônia antecipará o período de férias coletivas, originalmente previsto para o mês de dezembro, para o período de 01 a 10
de novembro de 2023, como medida de adequação da produção à disponibilidade de insumos.”

A Samsung, também em nota, comunicou que “estamos cientes da atual situação e nos preparamos para ela com antecedência. Iremos operar o nosso programa de produção de maneira flexível para responder a qualquer necessidade e minimizar o impacto.”

Fonte: Exame

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