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ANP alerta sobre os riscos do uso de etanol combustível contra a Covid-19


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A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou nesta terça-feira (19) nota sobre os riscos do uso inadequado de etanol combustível como produto de limpeza e desinfecção na atual situação de crise provocada pelo novo coronavírus, causador da Covid-19.

“Na composição do etanol combustível automotivo, devido à matéria-prima e ao processo produtivo empregados, pode haver outros álcoois, bem como sais orgânicos à base de enxofre, ferro, sódio e potássio, cuja ingestão, ou contato com a pele e mucosas, são prejudiciais à saúde”, alerta a agência.

Pureza

Em entrevista à Agência Brasil, a professora Celia Machado Ronconi, do Departamento de Química Inorgânica da Universidade Federal Fluminense (UFF), confirmou, que os critérios de pureza do etanol combustível não são os mesmos do álcool em gel produzido para limpeza.

“No etanol combustível, pode haver resíduos de outros álcoois, como o metanol, que é extremamente tóxico e pode causar irritação na pele, mesmo em pequenas concentrações. Além disso, pode haver resíduos de sais de ferro, cobre, sódio e sais de enxofre que também podem causar irritações”, reforçou.

A professora explicou que o etanol combustível hidratado tem 92,5% de etanol e o restante é água. “E é muito mais volátil que o álcool 70%, que contém 30% de água, ou seja, o etanol combustível evapora com mais facilidade e não dá tempo de atuar na pele para destruir a membrana do vírus. Mesmo que seja diluído, não é adequado porque contém os resíduos tóxicos e irritantes para uso doméstico.”

Célia lembrou ainda que o álcool 92,5% é muito desidratante e removeria toda a camada de proteção da pele, causando irritações e até doenças de pele.

Problemas

Para o professor Felipe Silva Semaan, do Departamento de Química Analítica da UFF, a nota da ANP reflete a “sensatez e consciência” do órgão face ao desafio do novo coronavírus, e busca esclarecer o público visando evitar certos males.

“O pânico causado pela pandemia, aliado à falta de esclarecimento, fomenta uma crença de que qualquer ‘álcool’ ajudaria, mas, na realidade, este pode ser também fonte de problemas.”

Semaan disse que é preciso atentar para o fato de se estar lidando com produtos com finalidades diferentes quando se fala de álcool combustível e álcool para uso humano.

“Os critérios vão além do ‘simples’ doseamento, que é relevante, e são diferentes em virtude dos usos pretendidos. Produtos diferentes terão controles de qualidade diferentes, ora mais, ora menos restritivos, ao longo de todo seu preparo, armazenamento, distribuição e uso”, argumentou.

O professor Semaan ressaltou que, como consequência das diferentes formas de monitorar e atender às exigências, certos aspectos toleráveis no álcool combustível serão questionáveis, ou reprováveis, quando do uso como sanitizante.

“Nosso foco inicial acaba sendo o teor de etanol, embora uma avaliação rápida possa nos expor a complicadores como os contaminantes citados [e outros], os quais podem ser introduzidos ao produto sem qualquer intenção, em qualquer etapa da cadeia produtiva, e levar a problemas de pele, por exemplo.”

Semaan destacou que isso não significa que o etanol citado seja ruim. “Significa que o teor de etanol na formulação a ser empregada é apenas um dentre os aspectos a serem considerados, e que o ‘álcool’ que atende bem às exigências para uso como combustível não automaticamente ou necessariamente atenderá às exigências para uso humano”.

O professor não descarta, porém, que isso possa ocorrer. “Pode! A ponderação custo-benefício passa a ser quase arte, aliando aspectos como os resultados de ensaios de qualidade e urgência nas situações, em especial num momento como o atual”, concluiu.

Fonte: O tempo

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