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Márcio de Freitas: Em tempos estranhos, falta a liderança extraordinária


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Por Márcio de Freitas

A história dos Estados Unidos teve momentos dramáticos onde a liderança pessoal foi a solução para o impasse social, o que significou até mesmo a continuidade da existência do país — como foi o caso de Abraham Lincoln na Guerra de Secessão. Ou evitou-se uma ruptura, como nos anos de 1930 sob a presidência de Franklin Roosevelt para superar o Crack da Bolsa de 1929. Foram nomes que entenderam o espírito do tempo e criaram uma identificação maior com o povo de seu país, com valores que sublimaram a mesquinhez dos interesses pessoais ou de grupos, e conseguiram avançar em meio ao caos.

Além das histórias desses dois personagens, a escritora Doris Kearns Goodwin conta como Theodore Roosevelt e Lyndon Johnson melhoram as instituições de seus países no excelente “Liderança em Tempos de Crise”, livro que deixa um certo vazio quando se procura no horizonte personagem parecido em todo o mundo agora.

O texto une histórias de dramas pessoais com tragédias históricas norte-americanas. Superação é a palavra que norteou a vida desses homens. Cada um à sua maneira. Fizeram história e deixaram frases e discursos que se repetem pela força do momento que traduziram. “A única coisa que temos a temer é o próprio medo”, diz Franklin ao assumir a presidência em 1933, quando uma crise havia fechado a porta de mais de cinco mil bancos no país e ameaçava todo o sistema.

O presidente usava muletas na posse, pois ficou paralítico pela poliomielite aos 38 anos. Ele decretou feriado bancário de uma semana, após filas de milhares buscarem sacar seus recursos nos bancos, muitos sem sucesso porque as instituições não tinham fundos. O desespero e a fome eram relatados com dramaticidade nos jornais de então. Após dois discursos memoráveis, o da posse e um pelo novíssimo meio de comunicação da época, o rádio, com frases simples e voz tranquila para explicar as medidas do novo governo, os bancos foram reabrindo e novas filas se formaram de novo em frente a cada agência… os americanos voltaram para depositar seus recursos nas instituições financeiras. E isso pela crença na liderança de Roosevelt, não nos bancos.

É o poder da política transformar a realidade. Fazer o povo acreditar. Liderar pelo bem de todos. Lincoln é um ícone pela força de seu caráter e valores. Manteve o país unido, mas colocou em prática a liberdade e a igualdade inscritas na constituição daquele país — e eram inválidas para os negros escravizados pelos estados separatistas do sul. Para obter a aprovação da 13ª emenda à constituição, seduziu, negociou cargos federais e verbas para congressistas. Não teve dúvidas de articular com a baixa política para alcançar um bem maior.

Lincoln fez a guerra, e com ela a morte de milhares de cidadãos norte-americanos, a moldura que refez os laços de sangue e reunificou o país, com sofrimento e cicatrizes que ainda hoje são evidentes na sociedade dos EUA. O discurso de Gettysburg ficou célebre ao direcionar o ato heróico aos heróis: “O mundo dificilmente notará, nem por muito tempo se lembrará do que dizemos aqui, mas nunca esquecerá o que fizeram aqui”. Entretanto, suas palavras ficaram para sempre na concepção do “governo do povo, pelo povo e para o povo”.

Eram tempos polarizados, muito mais que hoje. Mas havia líderes capazes de unir pelas palavras e atos. As palavras de hoje soam vazias, com atos que jamais ficarão na história. A não ser para serem discretamente apontados como não exemplos eternos.

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Fonte: Exame

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