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Conselho da Polícia aprova demissão de delegado por vídeo com conteúdo racista


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O Conselho da Polícia Civil de São Paulo aprovou a demissão do delegado Paulo Bilynskyj, 35, pela divulgação nas redes sociais de um vídeo que, conforme entenderam os delegados da Corregedoria da instituição, faz apologia dos crimes de estupro e racismo.

O vídeo faz parte de material promocional de cursos online ministrados pelo delegado e utiliza imagens de uma moça branca sendo carregada por homens negros e, na legenda, frases do tipo que a “situação fica preta” para quem não se prepara adequadamente para concursos (leia mais abaixo).

O policial é o mesmo que teve a arma retirada pela polícia após a publicação de conteúdo nas redes sociais em que aparece atirando, atacando a esquerda e convocando seguidores a participarem de atos em apoio a Jair Bolsonaro (PL), em 7 de setembro.

A demissão, proposta pela Corregedoria, foi aprovada pelo Conselho na semana passada. O processo administrativo com a decisão foi enviado à Secretaria da Segurança e, agora, deve seguir para o governador Rodrigo Garcia (PSDB), quem tem a palavra final de exonerá-lo.

Bilynskyj, que tem mais de 700 mil seguidores nas redes sociais, está afastado das funções para concorrer a deputado federal pelo PL. Procurado, o policial disse que não teve ciência da decisão do conselho, mas, para ele, “tudo não passa de uma represália política” (leia abaixo).

De acordo com integrantes da cúpula da segurança paulista, a punição ocorre porque, em maio de 2020, Bilynskyj publicou um vídeo nas redes sociais, pela Estratégia Concursos, com conteúdo considerado ilegal. As decisões do conselho têm caráter sigiloso e, assim, os detalhes não são divulgados.

A Estratégia Concursos é uma empresa, ligada a Paulo Bilynskyj, que oferece preparação para concursos públicos, por meio de aulas online. O material publicado tinha como propósito a promoção de cursos, mas utilizou mensagem de cunho sexual e vídeo que sugeria uma situação de estupro.

A postagem, nomeada Casa da Dor e do Sofrimento, fazia referência a examinadores de concursos públicos da Cespe, antigo nome da Cebraspe, e a candidatos mais preparados, os “concurseiros”.

Os examinadores foram associados a três homens negros, todos sem camisas, que carregam uma mulher branca para um quarto. O trio é identificado como “examinadores do CESPE” enquanto a moça, uma suposta vítima do grupo, é tratada ali como “Concurseiro”.

A legenda da postagem diz que “concurseiro” que não tem uma “retaguarda de conhecimentos que aguente a profundidade com que a banca introduz os conteúdos e diversas posições doutrinárias” pode se dar mal e usa palavras consideradas racistas.

“E aí… a situação fica preta! Para não passar por isso e nem levar trolha na prova, esteja lá na live do dia 18/05, às 10h!”, diz trecho da mensagem que termina com um pedido de ajuda para engajamento: “Marque aquele amigo(a) que já passou esse momento doloroso!”.

Após reação negativa na época, o anúncio foi retirado do ar com pedido de desculpas. A Corregedoria da Polícia Civil foi, então, acionada e concluiu que o delegado agiu em possível prática de apologia do crime de estupro e a possível prática da modalidade de racismo, segundo integrante da cúpula da segurança.

Ouvidos por integrantes da Corregedoria, os donos da empresa afirmaram que Bilynskyj era, além de professor, o responsável pela publicação do conteúdo considerado criminoso. A investigação foi aberta após pedido do Ministério Público e Ouvidoria da Polícia.

O ouvidor da Polícia, Elizeu Soares Lopes, disse que a decisão é um exemplo a ser seguido pelas polícias de todo o país e por outras instituições. Deve ser comemorada porque, segundo ele, demonstra que a instituição não compactua com práticas racistas de seus integrantes.

“Precisa cortar na carne, mesmo, para mostrar para todo mundo, para toda a sociedade, que a população negra é merecedora de respeito. A população negra não pode ser aviltada em sua dignidade”, afirmou.

Para ele, o vídeo atenta contra a população negra porque induz que os homens negros são pessoas perigosas, grupos de estupradores, o que corrobora com o racismo existente na sociedade brasileira.

“Eu me pergunto: um delegado de polícia que faz isso, vai ter a isonomia para poder analisar um caso envolvendo uma pessoa negra? Como ele trata um cidadão negro que está sob suspeição? Para uma autoridade policial isso é muito grande, até porque estava na condição de professor. Olha o que ele está ensinando. Isso é inconcebível”, disse. “Isso implica, ao final, pessoas presas sem terem cometido crimes. Pessoas condenadas injustamente em razão da cor da pele. É disso que estamos falando.”

Segundo delegados que participaram da reunião do Conselho, a recomendação pela demissão foi aprovada de maneira unânime e com elogios ao relatório que concluiu ter havido uma conduta reprovável do policial. Teria pesado na decisão um histórico de problemas disciplinares internos.

O delegado ganhou espaço no noticiário em 2020, quando sua então namorada, Priscila Barrios, disparou seis vezes contra ele. Investigações posteriores concluíram que ela se matou com um tiro no peito após ter atirado contra o namorado, por conta de questões amorosas entre eles.

O Tribunal de Justiça de São Paulo arquivou o inquérito do caso neste mês.
Bilynskyj é o segundo delegado com indicativo de demissão aprovado pelo Conselho da Polícia Civil neste ano, ambos por conta de publicações na internet. O outro foi o delegado Carlos Alberto da Cunha, o Da Cunha, que, segundo os colegas, divulgou falsa prisão de chefão do PCC. Da Cunha nega irregularidades nas postagens feitas por ele.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública confirmou que Conselho da Polícia Civil deliberou pela demissão do delegado mencionado. “A Corregedoria da instituição segue investigando o policial e representou pela recolha de sua arma e funcional, decisão que foi deferida nesta quinta.”

Outro lado

Procurado na manhã desta sexta (29), o Bilynskyj disse que seu julgamento teve caráter político. Leia a íntegra da nota:

“Julgamentos do conselho não são pautados nem publicados, nem eu nem minha defesa tomamos ciência. Esse julgamento tem natureza política, pautado por um esforço da mídia, a mesma que me acusou injustamente e que agora faz isso novamente de maneira covarde. Também é importante lembrar que a decisão foi feita em conjunto com a retirada do meu porte de arma, que é meu Direito como Delegado Civil. Tudo não passa de uma represália política.” (Rogério Pagnan/Folhapress)

Fonte: O tempo

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