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Brasil cai duas posições e é 59º em ranking de competitividade global. Veja as lições para o país


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O Brasil perdeu duas posições e ficou em 59º lugar no Anuário de Competitividade de 2022, um dos principais estudos sobre o tema no mundo e elaborado pelo IMD Competitiveness Center, da escola de administração Lausanne, na Suíça, em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC) no Brasil.

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O Brasil segue entre as nações menos competitivas do mundo, à frente somente de África do Sul, Mongólia, Argentina e Venezuela, segundo a nova edição do estudo, divulgado globalmente nesta terça-feira, 14.

O ranking analisa 63 economias, avaliadas em termos de “sua capacidade em gerenciar fatores e competências que possibilitem alcançar um crescimento econômico de longo-prazo”.

Com o resultado, o Brasil volta ao nível de 2019. Um dos poucos destaques brasileiros foi a energia renovável, onde o país figura entre os mais competitivos (veja os detalhes abaixo). 

O país mais competitivo no estudo deste ano foi a Dinamarca, que foi líder do ranking pela primeira vez nas 34 edições publicadas até agora. A Suíça, antiga líder, caiu para o segundo lugar. Completa o pódio Singapura, que subiu da quinta para a terceira colocação.

Além dos pequenos países asiáticos e nórdicos, que dominam os primeiros lugares, na lista de grandes economias que também conseguiram figurar no topo do ranking estão Estados Unidos (10º), Canadá (14º), Alemanha (15º) e China (16º).

Crise é hora de se preparar

Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral e um dos organizadores da edição no Brasil, aponta que o anuário deste ano teve poucas mudanças em meio às expectativas de baixo crescimento da economia mundial com guerra na Ucrânia e inflação, além dos desdobramentos ainda presentes da pandemia da covid-19.

“Já temos sinais de que o mundo está em um período de transição competitiva. Um baixo crescimento na China e possível recessão nos EUA geram impactos negativos no mundo todo”, diz Arruda, que é membro do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Doom Cabral.

O professor aponta, no entanto, que o momento de transição será também decisivo para as economias que souberem se preparar.

“O momento de construir o futuro é no momento de crise e, depois, quando houver crescimento, será hora de maximizar os retornos. Os países que aproveitarem esse momento para se diferenciar, vão se beneficiar na etapa seguinte ao estarem melhor posicionados para serem mais competitivos”, diz.

Em crises passadas, foi esse o movimento feito por países que hoje são destaque, como Coreia do Sul e a própria China.

Mesmo diante da crise global, a tendência é que potências como EUA e China invistam pesado daqui para frente, de modo a preparar as economias para as novas demandas do século 21, com inteligência artificial, big data, indústria 4.0 e frentes como a transição energética, diz Arruda.

“Agora é a hora de países como o Brasil também investirem nas agendas de futuro e na competitividade”, diz o professor.

O Brasil vem apresentando queda no ranking de competitividade desde 2011. Frentes como a inflação alta e desemprenho ruim da economia doméstica seguem prejudicando o resultado brasileiro, além de desafios estruturais, como baixo investimento e qualificação da mão de obra.

Os quatro principais critérios analisados no ranking do IMD são (i) o desempenho da economia; (ii) a eficiência do governo; (iii) a eficiência dos negócios e (iv) infraestrutura, divididos em mais de 300 subitens.

Os desafios do Brasil

No geral, segundo Arruda, o Brasil ainda peca em três grandes frentes cruciais para a competitividade, na comparação com países mais bem posicionados: políticas públicas de incentivo a pesquisadores e empreendedores para inovação e tecnologia, investimentos, e, por fim, educação, com uma força de trabalho digitalmente orientada.

Um dos destaques positivos do Brasil na competitividade global é a energia renovável, frente em que o país ficou em terceiro no mundo e, para o professor, uma das grandes frentes de oportunidade brasileiras.

Outro destaque positivo do relatório foi a presença de mulheres em cargos de liderança, em que o Brasil ficou em 12º, com 39% do total. “Essas são agendas de transformação que precisamos reconhecer que serão essenciais para os próximos anos”, diz o professor.

Arruda destaca ainda o impacto positivo de estatais que auxiliam no desenvolvimento de tecnologia e competitividade dos negócios brasileiros, como a Embrapa no agronegócio ao longo das últimas décadas e, mais recentemente, da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) com as novas tecnologias.

Ainda assim, um dos principais desafios para o Brasil têm sido a dificuldade de obter um crescimento sustentado na competitividade e os baixos investimentos, com pouco mais de 1% do PIB investido em pesquisa e desenvolvimento, segundo dados da OCDE usados no relatório.

Países líderes em competitividade têm fatias acima de 2% ou 3% (e até mais de 4%, caso da Coreia do Sul), vindos de fontes públicas e privadas, “fruto de uma dinâmica em que atores possuem financiamento, mão de obra qualificada, maior cooperação entre empresas e universidades e um ambiente jurídico propício e minimizador dos riscos do processo de inovação”, segundo o relatório da Dom Cabral. 

Na frente de educação, o Brasil tem bons resultados em ciência e universidades de ponta, mas com resultado negativo na “fuga de cérebros” que vem ocorrendo no país, diz Arruda.

“O Brasil vai continuar sendo um exportador de profissionais qualificados. Muitos países vêm recrutar no Brasil, porque temos mão de obra qualificada e que não está tendo oportunidades”, diz o professor. 

Ao mesmo tempo, o Brasil é o último colocado no ranking de competitividade na frente de educação. Arruda avalia que falta, além da construção de oportunidades aos profissionais do país, avançar na qualidade da educação técnica, mesmo para os alunos que não frequentarão as universidades de ponta, além de políticas para combate à desigualdade social.

“Essa combinação de aumento da pobreza com baixa qualidade da educação técnica faz com que nosso trabalhador típico, de baixa qualidade educacional, acabe tendo oportunidades de emprego com menor valor agregado, e isso não sustenta o crescimento da competividade do país”, diz.

Fonte: Exame

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