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Qualidade à flor da pele: Robusta Amazônico especial é matéria-prima para cosméticos


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Os Robustas Amazônicos especiais estão proporcionando desenvolvimento social, econômico e também benefícios para saúde. Além de ser fonte de bebida de qualidade, por ser rico em constituintes nutricionais, químicos e com muitos aromas e sabores, estes cafés começam a ser utilizados na indústria de cosméticos. O café é considerado um alimento com propriedades nutracêuticas, ou seja, seus compostos possuem valor nutricional e que proporcionam também benefícios para a saúde.

Um grupo de mulheres empreendedoras deu início, em 2015, a um trabalho que alia preservação ambiental, empoderamento feminino e desenvolvimento socioeconômico local. Com a denominação de Saboaria Rondônia, elas passaram a utilizar a riqueza da biodiversidade amazônica nas essências dos produtos de higiene pessoal e voltados para os cuidados com a pele. Como o café é um dos principais produtos agrícolas do estado, não demorou muito para que migrasse da xícara para os potes e barras de sabonete, sempre misturados a óleos vegetais e outros ativos.

Uma das fundadoras do empreendimento e responsável pela comercialização dos produtos, Jaqueline Freire de Almeida, conta que elas sempre pesquisam sobre elementos naturais com propriedades benéficas ao cuidado corporal, e buscam aliar estes produtos à valorização da cadeia produtiva regional. “Em nossas pesquisas vimos os benefícios do café para a pele. Foi onde nasceu a ideia de utilizar o café no sabonete, esfoliante corporal e também em outros produtos. Além disso, pensamos em também fomentar essa cadeia produtiva em Rondônia, que cresce bastante, caminhando junto aos cafeicultores familiares”.

Em 2019 colocaram estes produtos à base de café no mercado, o que despertou grande interesse dos consumidores. Entretanto, os clientes mais exigentes demonstraram certo desapontamento com o aroma dos produtos, apesar de gostarem dos efeitos na pele. “Sabíamos da atuação da Embrapa Rondônia em pesquisas com café e buscamos apoio para aprimorar nossos produtos à base deste grão”, diz Jaqueline Freire.

Após questionamentos e relatos sobre o processo produtivo, o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, que atua na qualidade do café, observou que a matéria prima poderia ser o diferencial que elas estavam procurando. Para testes, a Embrapa forneceu grãos especiais e selecionados de Robustas Amazônicos, com torra média. Segundo as empreendedoras, após a troca da matéria prima, o resultado foi primoroso. Os novos aroma e sensação após o uso melhorou muito a aceitaç-ão do produt-o.

Potencial do café especial

O pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, explica que os cafés especiais são mais ricos em açucares, substâncias antioxidantes e lipídeos, entre outros. Além disso, o ponto de torra dos cafés especiais claro ou médio, também podem fazer a diferença quando comparado aos cafés tradicionais, que usam, geralmente, torras escuras e até carbonizadas. “Os grãos de café têm muitos compostos voláteis que podem se perder em torras escuras”, pontua Alves.

A publicação da Embrapa, intitulada Café & Saúde Humana, de autoria dos pesquisadores Ronaldo de Oliveira Encarnação e Darcy Roberto Lima, demonstra que os grãos de café são ricos em sais minerais (3% a 5%) como potássio, magnésio, cálcio, sódio, ferro, manganês, rubídio, zinco, cobre, estrôncio, cromo, vanádio, bário, níquel, cobalto, chumbo, molibdênio, titânio e cádmio. Também possuem uma quantidade considerável de lipídios (10% a 20%), açúcares (35% a 55%) e aminoácidos (2%), substâncias importantes como fontes de energia, além de ácidos clorogênicos (7% a 9%) e niacina ou vitamina PP – vitamina do complexo B (0,5%).

A bebida do grão possui cafeína, ácidos clorogênicos/quinídeos, niacina, sais minerais e centenas de compostos voláteis responsáveis pelo aroma e o sabor. Do ponto de vista alimentício, todos esses componentes fazem do café uma bebida saudável e rica em propriedades nutricionais, superando as bebidas isotônicas, os refrigerantes e a própria água mineral.

Os mesmos autores também mencionam o cuidado da torra para a preservação das propriedades benéficas dos grãos de café. E, que após o processo de torra, a coloração dos grãos deve ser marrom-chocolate, clara ou escura, mas nunca preta como carvão, pois assim, permaneceriam as mesmas quantidades de cafeína, mas um maior teor de cinzas, enquanto os outros componentes mais importantes seriam praticamente destruídos. Somente a cafeína (termoestável) não é destruída com a excessiva torra do café.

“O poder de transformação da realidade que a pesquisa tem impressiona. Muitas vezes, mudanças de hábitos baseadas em argumentos técnico-científicos podem trazer resultados muito positivos”, comenta Alves. O pesquisador da Embrapa explica que elas utilizavam cafés tradicionais como matéria prima, numa escolha baseada em custo-benefício. Estes cafés, apesar de fazerem parte do hábito de consumo da maioria das pessoas, eram muito pobres do ponto de vista sensorial. Eram provenientes, possivelmente, da colheita de frutos verdes e de um processo de pós-colheita inadequado.

A princípio, o uso deste tipo de café não parecia ser um problema. Mas, ao analisar os produtos, o pesquisador observou que as características sensoriais dos cafés tradicionais poderiam ser observadas nos cosméticos. Então, ele indicou a substituição dos grãos de padrão de qualidade tradicional pelos de Robustas Amazônicos superiores, ou Finos.

A substituição da matéria-prima ocasionou uma melhoria perceptiva nas características sensoriais dos produtos. Mas, os ganhos não pararam por aí. Os consumidores começaram a relatar um aumento na intensidade dos benefícios esperados com o uso dos produtos. Para Mareilde Freire de Almeida, uma das fundadoras do empreendimento familiar, com a adoção de grãos de qualidade superior, houve melhoria tanto no processo produtivo como nos resultados finais. Pela boa qualidade do café, não foi preciso o uso de composto para dar a fragrância. “Hoje, vamos direto ao fornecedor do café e conhecemos a procedência, o que confere também maior durabilidade aos nossos produtos. Os elogios dos clientes e a melhoria das vendas são nosso melhor termômetro”, conta Mareilde. Os produtos à base de café representam, segundo elas, 40% das vendas.

Após os resultados do uso dos Robustas Amazônicos Finos, as empreendedoras passaram a utilizar estes cafés em seus produtos. Para isso, fizeram uma parceria com um produtor de cafés especiais localizado na Região Matas de Rondônia para fornecer matéria-prima de origem, com rastreabilidade e qualidade. Além disso, a escolha levou em conta um produtor que empregasse critérios de sustentabilidade na produção e que evita o uso de agrotóxicos nas lavouras.  A parceria com a família Lima veio ao encontro da busca por fornecedores qualificados que trabalhassem no mesmo viés de sustentabilidade. “A conjugação da valorização da agricultura familiar de Rondônia, fomento de produtos locais junto à preocupação ambiental faz parte da política interna do nosso empreendimento”, afirma Mareilde.

Os produtos feitos atualmente pela Saboaria Rondônia, à base de café, são os sabonetes em barra, com leve efeito esfoliante e a pasta esfoliante corporal. É elaborada uma mistura de óleos vegetais advindos da biodiversidade amazônica como óleo de buriti, babaçu, copaíba, andiroba, pracaxi, castanha, manteigas vegetais de murumuru, cupuaçu, cacau e outros ativos como açafrão e gengibre. Também está em teste no laboratório o shampoo líquido a base de café.

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