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Novos rivais: depois do Uber, 99 acirra disputa com Mercado Pago e PicPay


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Já se foi o tempo em que a 99, o primeiro unicórnio brasileiro, era apenas uma empresa de aplicativos de transporte. A empresa, que faz parte do grupo chinês Didi Chuxing – líder global no segmento – agora se posiciona  mais como um “negócio de tecnologia que oferece conveniência e soluções para as necessidades dos brasileiros”. Dentro dessa nova forma de se apresentar ao mercado nacional, uma vertical ganha cada vez mais espaço: a carteira digital 99 Pay. Lançada no ano passado, já tem mais de sete milhões de usuários e deve ganhar um portfólio mais completo de serviços, conforme anúncio da empresa nesta manhã.

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As razões para a construção da mudança de tom da 99 em direção a uma oferta financeira não são difíceis de entender. Tomando como base a principal rival global da 99, a Uber, é possível perceber que ‘a maré não está para peixe’. O prejuízo da empresa norte-americana saltou 54 vezes no primeiro trimestre de 2022, chegando ao recorde de US$ 5,93 bilhões. É verdade que o número considera investimentos da companhia e ‘despesas’ com planos de opções aos executivos – e que a receita cresceu em relação ao período anterior, auge de pandemia – mas ainda paira a dúvida na cabeça de investidores do quão (e se) o modelo de negócio proposto pode, enfim, se tornar efetivamente rentável.

Do lado da Didi, dona da 99, não é possível saber como o negócio está por dentro, já que a companhia não chegou nem mesmo a divulgar relatórios trimestrais de 2022 enquanto estava na bolsa de Nova York. Depois de persistir no IPO e enfrentar as consequências do governo chinês — com multas podem chegar a US$ 1 bilhão, segundo o WSJ — o que dá para inferir é que criar novas linhas de receita no maior país em operação depois da China pode parecer uma boa estratégia. Em meio aos tempos mais difíceis para o setor e para o contexto da própria operação, a 99 não deixa ainda claro, entretanto, quando, como ou se o novo produto vai se tornar relevante em dinheiro dentro do ecossistema digital que a empresa está construindo.

A conclusão possível a partir da fala dos porta-vozes nesta manhã é a de que, por enquanto, o foco é desenvolver produtos e serviços financeiros para quem já conhece a 99 e já usa o aplicativo de transportes. “Os serviços oferecidos na carteira tem como foco atender as necessidades dos usuários que circulam pela cidade, usam o serviço de entrega, pagamentos e transações financeiras”, diz a 99, em nota. É um discurso que vai em linha com o que foi apresentado nesta manhã: ao desenvolver produtos financeiros que visam upsell para clientes já cadastrados em uma das pontas da plataforma, a 99 Pay conseguiu ‘distribuir’ aos clientes da carteira digital aproximadamente R$ 58 milhões, considerando benefícios, descontos, incentivos e o próprio rendimento da carteira.

O foco em funcionar como um serviço financeiro adicional ao app de transportes sem a missão de conquistar o maior número possível de clientes do zero, quase como um ‘laboratório’ pode ser um dos motivos pelos quais a carteira digital ainda se concentra muito mais em políticas de incentivo ao uso do app do que de cobranças por serviços. Hoje, a 99 Pay oferece a possibilidade de investir com rendimentos de até 220% do CDI e, agora, passa a oferecer mais opções de criptomoedas, vales-presentes e até mesmo um curso de educação financeira. Do lado das cobranças, a carteira digital cobra uma taxa de 2,8% para pagamentos de boletos com cartão de crédito que ultrapassem R$ 100, excluindo contas de consumo e tributos com código de barras começando com 8. A taxa é menor do que a da concorrência, dentro dos mesmos parâmetros.

O principal público-alvo da companhia para essa gama de serviços (que se torna cada vez maior) é o das classes C e D, com quem a 99 enquanto app de transportes se aproximou na pandemia. Ao conduzir uma pesquisa em seis capitais do país, a empresa constatou que 95% dos entrevistados dessas classes faziam uso recorrente do aplicativo e 55% aumentaram a frequência de uso durante a crise da covid-19. Em tempos de inflação e juros em alta, que podem reduzir o poder de compra desse público, a 99 Pay agora tenta chegar até esse público com uma estratégia diferente do carro puro e simples, oferecendo rendimento financeiro adicional. O que pode, no limite, retroalimentar a procura por transporte.

Nesse processo, a carteira digital vai por um lado muito mais de remunerar investimentos do que de oferecer crédito a essa população. A estratégia da companhia é de conscientizar a respeito da importância de poupar dinheiro, um desafio e tanto no Brasil, e de desenvolver a confiança da população desbancarizada para guardar seus rendimentos dentro da carteira digital. Chegar até lá demanda tempo, mas a companhia começa a dar os primeiros passos em setembro deste ano. É este o mês em que um curso de educação financeira desenvolvido em parceria com a Barkus, startup social de educação financeira, será disponibilizado de forma gratuita a 100 mil pessoas de regiões periféricas. O principal diferencial é a Iara, inteligência artificial da Barkus, que oferece de forma simples e dinâmica a trilha de ensino voltada para questões financeiras relacionadas ao dia a dia, além do fato de que o curso é inteiro realizado por WhatsApp, plataforma mais do que popular no país.

Além disso, a vertical de serviços financeiros também começará a oferecer, a partir do próximo mês, uma gama maior de criptomoedas em que será possível investir a partir de R$ 1,00, sem cobrança de taxas. Desde setembro do ano passado, é possível fazer aportes em bitcoin e, agora, Ethereum, USDC, Solana e Mana também se juntam a esse portfólio. Questionado a respeito da possibilidade de permitir aos usuários pagarem corridas com bitcoin, César Trevisan, head de criptoativos da 99 Pay, ainda não deu detalhes. “Estamos analisando diferentes frentes e identificando o que os consumidores querem, mas por enquanto ainda não temos novidades sobre o assunto”, afirmou, ao EXAME IN. 

Os vales-presentes talvez sejam o ponto que menos toca nos rendimentos em si, mas funcionam como uma ponte para a companhia estar presente na vida de possíveis usuários em um momento no qual eles não têm de sair de casa. O que a empresa apresenta é que os gift cards da Xbox Live, PlayStation Store, League of Legends, Google Play, STEAM, Spotify e Claro Fixo foram disponibilizados na plataforma a partir dos insights de uma pesquisa feita pela Consumoteca com 1.200 pessoas. Os resultados mostraram que os sites e apps mais acessados pela classe C, 44% são direcionados aos jogos e 51% a apps de músicas.

Os investimentos e avanços na carteira digital deixam claro o potencial que a companhia chinesa vê para avançar no Brasil e o quanto está disposta a desenvolver áreas auxiliares ao core business para manter a posição global de liderança no setor. Em meio aos questionamentos sobre a rentabilidade do modelo de transporte por aplicativo, o que a 99 pode mostrar é que está desenvolvendo um laboratório próprio para conseguir entender, no longo prazo, como manter o negócio de pé. O que fica, ao menos por enquanto, é a curiosidade para entender o que se passa por dentro da empresa e a expectativa de que a listagem em Hong Kong consiga, enfim, sair do papel.

 

 

 

 

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Fonte: Exame

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