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Isolamento cresce no Brasil com explosão da ômicron e férias


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O final de 2021 foi de “vida normal” para Matheus Perretti, 22. Festas, reuniões com amigos e trabalho presencial voltaram a fazer parte da rotina do paulistano. Até que a ômicron veio e pegou de surpresa ele e todo o grupo que comemorava o Ano-Novo na praia.

“Já estou liberado da quarentena, mas agora só vou para o trabalho e fico em casa, tenho muito medo de pegar influenza ou qualquer coisa assim”, diz o assessor de investimentos, que tenta revender o ingresso de um evento e já pensa em cancelar seu aniversário em março pela terceira vez.

Ele é um dos muitos brasileiros que resolveram ficar em casa desde a recente explosão de casos de Covid-19 e contribuíram para um aumento no índice de permanência domiciliar (IPD), criado por pesquisadores da Fiocruz e calculado pelo jornal Folha de S.Paulo com base em dados de circulação do Google.

O número seguia tendência de queda desde meados de abril, quando mortes pela doença bateram recordes, mas voltou a subir a partir de 24 de dezembro, véspera de Natal. A grande quantidade de doentes em quarentena e o medo da contaminação, somados às férias, explicam o movimento.

“Houve um susto, ainda mais com Covid e influenza juntos. Não tem ninguém neste momento que não tenha um conhecido ou que não esteja doente”, afirma a psicanalista Cristiane Blaha, coordenadora do projeto Estamos Ouvindo, da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, que teve uma disparada nos atendimentos online na última semana.

Especialistas em saúde pública ponderam, porém, que a alta do isolamento agora é relativamente pequena e insuficiente diante do tamanho da onda de casos que se espalha pelo país em velocidade inédita. O IPD, até sexta (14), estava no mesmo patamar pré-pandemia.

Em dezembro, inclusive, o nível de pessoas em casa foi menor do que antes do surgimento do coronavírus. Contribuíram para o afrouxamento as festas após quase dois anos de restrições, um sentimento de proteção com a vacinação e um apagão de dados que ocultou a disseminação da ômicron.

Uma pesquisa feita pelo Datafolha na última quarta (12) mostrou que a porcentagem de pessoas que dizem estar saindo de casa apenas quando é inevitável caiu de 41%, em 15 de março, para 24%. A maioria (60%) agora afirma estar tomando cuidado, mas saindo, e só 4% seguem totalmente isolados.

O levantamento também apontou que dois em cada dez brasileiros passaram o Réveillon em grupos com 11 ou mais pessoas. Essa taxa foi mais alta entre os mais jovens (de 16 a 24 anos), com ensino médio completo ou ensino superior.

A mineira Marina Lemos, 30, foi uma das que aproveitou o fim de ano, mas depois foi obrigada se isolar ao contrair o vírus no Rio. “Não estava com um sentimento de que a pandemia tinha acabado totalmente porque sabia da ômicron em outros países, mas estava confiando na vacina”, diz a analista de negócios.

O Sudeste é a região com maior índice de pessoas em casa atualmente. São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Minas Gerais foram os estados que tiveram um aumento do isolamento acima da média nacional nas duas últimas semanas.

Já Acre, Pará e Roraima são os menos reclusos, o que contribui para que o Norte continue com o indicador mais baixo, como foi na maior parte do tempo da pandemia. Todas as regiões, no entanto, seguem a mesma tendência do país.

A curva do isolamento de agora é parecida com a da transição de 2020 para 2021, quando também houve férias e uma disparada de casos pela variante gama, surgida em Manaus no fim de dezembro. Mas em nível menor, ou seja, há bem menos gente em casa neste momento do que no último Ano-Novo.

A cientista política Lorena Barberia, membro da rede de pesquisadores Observatório Covid-19 BR, explica que, sempre que há um crescimento significativo da doença, há mais reclusão da população.

“O que temos notado em estudos é: quando os governos aumentam as políticas de restrição e quando aumentam as mortes, aumenta o isolamento. É uma relação bastante consistente ao longo dos dois anos”, diz. “Já os discursos do presidente [Jair Bolsonaro] na TV, por exemplo, não mudaram muito o comportamento.”

Agora, porém, a iniciativa de ficar em casa tem sido muito mais espontânea do que incentivada por autoridades. Diferentemente de países como Espanha, França e Alemanha, os estados brasileiros não anunciaram até aqui novas limitações de circulação significativas, de maneira geral.

“Alguns governos estão reagindo abrindo leitos, mas não é só isso. Precisa ampliar o nível de alerta da população, a orientação para usar máscara e evitar aglomeração. Ficou muito claro que locais turísticos e festas tiveram infecção em massa”, ressalta Ivana Barreto, uma das pesquisadoras da Fiocruz no Ceará que criou o índice de isolamento.

Barberia concorda: “É preciso voltar a discutir condutas que sabemos que funcionam contra o vírus. O que dá certo não é só ficar em casa.

Distanciamento físico em filas de supermercado e transporte público, uma boa máscara e também limitar eventos. Não é o momento para grandes festas e shows, mesmo com comprovação de vacina”, opina.

A cientista política destaca ainda que o Brasil não tem mais medidas de proteção social para quem não pode ficar sem trabalhar ao ter contato com doentes e que, mesmo quando tinha o auxílio emergencial, falhou ao comunicar que o dinheiro era um incentivo ao isolamento.

A volta às aulas é outro fator que preocupa no momento, com a demora na vacinação de crianças, que começou na sexta. Na avaliação de Barreto, as escolas só deveriam reabrir depois que a cobertura da primeira dose atingisse certo nível nessa faixa etária.

Com o fim do período de férias e sem incentivos ou medidas de restrição oficiais, a expectativa é que a alta do isolamento não dure muito tempo. Nos últimos dias a média móvel do índice já começa a se estabilizar, como ocorreu no ano passado.

A mineira Marina, por exemplo, já pretende sair da quarentena. “Ainda mais depois de ter pego Covid, que estou me considerando imune por algumas semanas”, diz. “É difícil ficar preso sabendo que tudo está acontecendo e a mortalidade está baixa, por enquanto.”

Fonte: O tempo

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