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ESG: Por um produtivismo verde


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Por Daniel Vargas* 

O desenvolvimento brasileiro, nos próximos anos, exigirá do país um esforço extra para fortalecer a sua economia e ampliar sua capacidade de produção. O Brasil deve abraçar, como projeto prioritário, o “produtivismo verde”. 

Por produtivismo, eu me refiro ao compromisso com a expansão acelerada da atividade produtiva brasileira nos distintos setores e atividades. Por verde, eu me refiro a tratar o meio ambiente não como problema, mas como oportunidade, como ativo estratégico do Brasil perante o mundo. 

As bases de nossa economia foram fincadas entre 1930 e 1980, quando o país ativou os três motores centrais da economia brasileira: indústria, mineração e agropecuária. Nos anos 1980, o restabelecimento da democracia introduziu dois novos compromissos: o combate à exclusão social e, a partir dos anos 1990, à degradação ambiental. 

Os valores socioambientais ensejaram inovações importantes no país. Contra a desigualdade, lançamos rede de proteção social, com previdência e assistência às populações e regiões marginalizadas, a exemplo do Bolsa Família. Contra os danos ambientais, construímos ampla estrutura de comando e controle, liderada pelo Ministério do Meio Ambiente, equipada por monitoramento de satélite, e capilaridade fiscalizatória. 

Os efeitos da agenda socioambiental foram notáveis. A pobreza e a desigualdade caíram consistentemente no Brasil em pouco tempo. O fluxo migratório, em regiões pobres do país, se inverteu. Conhecemos a democracia de consumo, com comércio e crediário, TVs, fogões e geladeiras.  Ao mesmo tempo, o Brasil se converte em referência ambiental. O desmatamento na Amazônia despenca de quase 30 mil km² anuais, na década de 1990, para 4,5 mil km² em 2012. Tudo combinado com programas ambiciosos de demarcação do território. 

Em que pese os seus méritos, a visão socioambiental escondia um limite. Ela nunca se dedicou a promover mudanças na base produtiva do país. Não cultivou avanços tecnológicos na indústria, e não promoveu ganhos significativos de qualificação e produtividade, em um momento de competição crescente no mundo. 

A exceção, que reforça a tese, foi o agronegócio pujante do país. Enquanto os preços das commodities estiveram elevados no mercado internacional, o Brasil navegou em céu de brigadeiro. Foram os preços caírem, e a balança comercial entrou no vermelho. Sem caixa e sem alternativas de produção, a capacidade de financiamento do estado, a partir de 2013, se esgotou. Voltaram a pobreza, o desmatamento, a crise. 

Qual o desafio brasileiro agora? Retomar sua capacidade produtiva, na democracia e em comunhão com valores socioambientais. Para isso, contudo, não será suficiente insistir no antigo casamento entre uma superestrutura socioambiental e uma indústria evanescente.  Será necessário dinamizar toda a economia, fortalecendo o agronegócio e construindo uma indústria mais sustentável. 

O produtivismo verde desloca os compromissos socioambientais da margem para o centro da dinâmica de produção. A inclusão social e a conservação ambiental se tornam valores do próprio modelo de negócios das empresas e das políticas. A aposta no crescimento, na capacidade de nossa economia prosperar, passa por ganhos cumulativos de inclusão e sustentabilidade. 

O social, em outras palavras, deixa de ser um adjetivo, uma compensação—importante, mas insuficiente—contra a dor e sofrimento do povo, para ser, ele próprio, parte da máquina de produção. O ambiental, de modo análogo, deixa de ser uma estação de polícia, do “não pode”, do “é proibido”, para se tornar um recurso, um ativo, uma oportunidade de geração de renda e riqueza verdes. 

Há rotas diferentes para se pôr em marcha um projeto produtivista, que deverá considerar as particularidades de cada região do país. Em meio às variações, contudo, há um elemento básico a todo o território: a aposta na ciência e no conhecimento sobre o “verde”, como caminho promissor para reanimar e reativar a capacidade produtiva do país. 

Apesar de o Brasil possuir uma das maiores riquezas naturais do planeta devido a nossa biodiversidade, nossas florestas, nosso solo e nossas águas, essas vantagens comparativas devem ser transformadas em vantagens competitivas. Com inovação e novos avanços, o país pode converter a natureza viva e conservada em fonte de capital e renda para todo o país. 

*Daniel Vargas, é doutor e mestre em direito pela Universidade de Harvard, e exerceu distintas posições no governo federal, tais como Secretário de Desenvolvimento Sustentável e Secretário Executivo na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República 

Este artigo é uma publicação conjunta entre Bússola e Indústria Verde 

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Fonte: Exame

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