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Dia Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos: conheça a importância do tema


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É comemorado neste domingo (27) o Dia Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos. Apesar de ser um tema meio “batido”, é muito necessária a constante explicação de sua importância, principalmente neste momento, quando vivemos uma pandemia nunca antes vista pela sociedade, e que mudou nossas rotinas.

Segundo o Ministério da Saúde, o coronavírus provocou uma queda de aproximadamente 40% do número de transplantes em relação ao ano passado. Entre janeiro e julho deste ano, foram feitos 9.951 procedimentos deste tipo – no mesmo período em 2019, o número foi de 15.827. Até 31 de julho, havia 46.181 pacientes na fila aguardando por um transplante.

Em Minas Gerais, por exemplo, as consultas de pré-transplante foram canceladas por conta da Covid-19, mas estão sendo aos poucos retomadas.

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De acordo com dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o transplante de pulmão foi o que sofreu mais impacto. No período, houve uma redução de 85% nesse tipo de procedimento, seguido do transplante de pâncreas (65%), coração (62%), rim (50%) e fígado (39%).

Uma boa notícia, segundo o Ministério da Saúde, é que neste ano houve redução da taxa de recusa familiar para a doação de órgãos. A taxa caiu de 39,9%, no período de janeiro a julho de 2019, para 37,2% no mesmo período de 2020.

Tipos de doações

Segundo informações do MG Transplantes, há três tipos de doadores: o doador em Morte Encefálica, o doador vivo e o doador de coração parado – independente do caso, é importante a pessoa comunicar a família sobre o seu desejo, e não é necessário deixar nada por escrito.

Podem ser doados os seguintes órgãos e tecidos: córneas, coração, pulmões, rins, fígado, pâncreas, intestinos, pele e tecidos musculoesqueléticos. Cerca de 96% deles são feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Doador vivo

O doador vivo é qualquer pessoa saudável que concorde com a doação, sem comprometimento de sua saúde e aptidões vitais. Por lei, podem ser cônjuges e parentes até o quarto grau. Os doadores vivos podem doar um dos rins, a medula óssea, uma parte do fígado e uma parte do pulmão.

Doador de coração parado

A retirada de tecidos e órgãos de doador falecido para transplantes depende da autorização do cônjuge ou parentes até segundo grau, que são consultados após o diagnóstico de morte encefálica (parada total e irreversível do cérebro, atestado por diversos exames). Com o coração parado é possível doar apenas as córneas, que podem ser retiradas num prazo de até seis horas.

Doador de morte encefálica

Quando o paciente está em quadro de morte encefálica, podem ser retirados todos os órgãos passíveis de doação, e também depende da autorização de parentes.

Leia mais: Pandemia da Covid-19 amplia drama de quem aguarda transplante no Brasil

Para entrar na lista de receptores de órgãos e transplante é preciso ser encaminhado por um médico para um dos Centros Transplantadores. O paciente é submetido a vários exames, que variam conforme o caso clínico, para que seja comprovada a necessidade do transplante.

Informações do Registro Brasileiro de Transplantes e Estatísticas de Transplantes indicam que, no primeiro trimestre de 2019, mais 7.974 pacientes entraram para a lista e 806 morreram enquanto aguardavam a cirurgia. 

Morte cerebral

O doutor Paulo Niemeyer Filho, um dos neurocirurgiões mais renomados do país e filho de um dos pioneiros desse tipo de cirurgia no mundo, explica o porquê dos órgãos poderem ser doados mesmo após a morte. “Ao contrário da tradicional morte cardíaca, em que tudo se encerra, com a morte cerebral há a possibilidade de transplante de órgãos, porque os órgãos daquele paciente ainda continuam vivos por dois ou três dias. E além de permitirem salvar outras vidas, permite ao doador que uma parte da sua vida possa continuar em outro corpo com uma outra alma”, conta.

Em um vídeo publicado nas redes socias da ABTO, ele deixa um apelo. “O transplante de órgãos é um tratamento moderno, que veio para salvar muitas vidas de pacientes que não teriam outra alternativa. Esse tratamento só foi possível pelo surgimento do diagnóstico de morte cerebral. A doação de órgãos é uma manifestação de solidariedade, de humanidade e de amor à vida. Comunique à sua família”, concluiu.

Minas

No Estado, a logística e organização dos transplantes de órgãos é feito pelo MG Transplantes, órgão do Sistema Estadual de Transplantes, submetido à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). Para a realização do transplante, há uma lista única, em que são observados vários critérios: urgência, compatibilidade de grupo sanguíneo, compatibilidade anatômica (tamanho do órgão e do paciente), compatibilidade genética, idade do paciente, tempo de espera, dentre outros critérios.

Leia mais: Transplantes inéditos não param de ocorrer em MG mesmo em meio à pandemia

O governo estadual disponibiliza o transporte aéreo 24 horas por dia para o transporte dos órgãos e também das equipes que realizam esses procedimentos. Nos locais onde não existe a possibilidade de pouso de avião, as polícias Militar e Civil, bombeiros e gabinete civil têm helicópteros à disposição.

Na Santa Casa BH, o maior hospital transplantador de Minas Gerais, 389 pacientes aguardam por uma doação de órgãos. Desses, 105 precisam de córnea, oito de fígado, 12 de coração e 264 de rim.

De janeiro a agosto deste ano, o hospital realizou 13 transplantes de coração, 16 de fígado, 49 de rim e 42 de medula. Quando comparado ao mesmo período do ano passado, nota-se crescimento nos procedimentos cardíaco (+250%) e renal (+28%), mas queda no hepático (-16%) e no de medula (-40%).

Campanha

Para celebrar o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos e conscientizar a população sobre tema, a Santa Casa BH realizará, de 28 a 30 de setembro, uma série de ações para seus pacientes e para a sociedade. Haverá live informativa no canal da instituição no YouTube; podcast com a história de quem já recebeu um órgão e o trabalho da equipe multidisciplinar nesse processo; interações nas redes sociais abordando os mitos e verdades da doação; e orientações para quem deseja ser um doador. Veja:

· De 27 a 30/9 – Interações nas redes sociais do Grupo Santa Casa BH.

· 29/9 – Podcast: Paciente transplantado e equipe multidisciplinar.

· 30/9, às 11h. – Live Setembro Verde: informações sobre doação de órgãos.

· Painel dos sonhos: espaço destinado aos pacientes que estão na fila do transplante para que registrem qual o desejo querem realizar após receber o órgão.

Esforço nacional

A coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes, Daniela Mourão, destaca que o Brasil tem o maior programa público relacionado ao tema. Segundo ela, o esforço agora será o de recuperar o patamar de transplante de órgãos do momento pré-pandemia.

“O desafio pós-covid é retomar as doações, organizar os hospitais que tiveram de paralisar por conta da pandemia. Teremos de ter atenção redobrada às listas de pacientes para avaliar se podem ser transplantados”, alertou.

A representante da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil, Socorro Gross, destacou a situação brasileira pela existência do Sistema Único de Saúde e a possibilidade de pessoas sem recursos terem acesso a transplantes e enfatizou a importância desta prática.

“Um dos assuntos mais solidários que tem na vida é a doação de órgãos. Definimos solidariedade não como entregar as coisas que temos de mais, mas que é valioso para nós e para outros”, pontuou Socorro.

Relatos de gratidão

Atendida pela equipe da Fresenius Savassi (antigo Instituto Mineiro de Nefrologia), Janne Cirley Marques, de 53 anos, conviveu com a insuficiência renal por 17 anos. Primeiro a mineira fez tratamento conservador por conta de uma atrofia dos rins, porém, quando eles pararam totalmente de funcionar, em 2010, precisou entrar na hemodiálise e seguiu disciplinada indo três vezes por semana se submeter ao procedimento.

“Na primeira vez que não deu certo, eu fiquei muito frustrada. Mas mantive firme na certeza de que minha hora iria chegar. Se aquele órgão não era compatível, é porque o meu estava por vir. Nunca esqueço do dia. Estava na máquina da diálise quando recebi a ligação de que havia mais um rim para mim e as chances de compatibilidade eram grandes. O transporte do órgão atrasou, eu estava ansiosa, mas a minha médica me disse que até meia-noite daquele dia teria a definição. Faltando menos de 5 minutos pra virar o dia ela ligou, avisando que eu precisava estar em 20 minutos no hospital, porque ia receber o meu rim”, contou a dona de casa do Barreiro, em BH, emocionada.

A assessora parlamentar Edilamar Carvalho, de 51 anos, mora em Brasília e, em 2010 descobriu que havia nascido com um rim atrofiado. Ela começou a fazer hemodiálise diariamente, o que trouxe muitas restrições para sua rotina e preocupação.

A paciente descobriu entre os irmãos a compatibilidade para um transplante. A irmã doou o rim e, agora, a assessora comemora a vida nova.

“Hoje, minha irmã vive super bem. E ela pode me dar a oportunidade de viver minha vida normal. Tomo minha medicação rigorosamente, mas não me impede de nada, não tenho restrição de nada. Trabalho, nado, estudo, tenho vida normal”, contou.

E fez um pedido: “Aquele que puder, faça a doação, porque com ela você está salvando uma vida. Doe, porque seu órgão vai estar trazendo uma vida e tirando toda a preocupação e o medo que aquela pessoa estava”.

Coronavírus

Uma das razões para a queda do número de doações é o coronavírus. Quem morreu e estava com a doença ou com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é retirado imediatamente da lista de doadores, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Destaca-se que são consideradas contraindicações absolutas para a doação de órgãos e tecidos (oculares e pele) de doador falecido: doador que apresente doença ativa causada pelo novo coronavírus; doador com teste para Sars-CoV-2 positivo; doador com síndrome respiratória aguda grave (Sars) sem etiologia definida e teste laboratorial não disponível”, consta.

Ainda não há indícios concretos a respeito da relação entre o transplante de órgãos e a infecção pelo coronavírus. No entanto, conforme uma orientação expedida pela ABTO, pode-se dizer que as pessoas transplantadas tem um maior risco em relação à doença, isso porque essas pessoas já estão nos grupos de risco.

“Até o momento, foram publicados poucos estudos sobre Covid-19 em transplantados de fígado, em sua maioria relatos de casos3-11. Não é conhecida a real incidência, manifestações clínicas e evolução nesta população. Porém, baseando-se no conhecimento sobre outros vírus respiratórios nesta população, podemos considerar que há maior risco de complicações”, afirma.

Orienta-se que qualquer transplantado evite ao máximo situações de risco, como viagens e aglomerações. Ele também deve comunicar imediatamente ao Centro de Transplante onde fez o procedimento para ser avaliado.

Fonte: O tempo

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