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Covid: Transferência de pacientes para interior de SP é exceção, diz coordenador


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Com a alta taxa de ocupação de leitos de UTI por pacientes com o novo coronavírus nos hospitais da região metropolitana de São Paulo, perto de 90%, e o rápido avanço da doença para o interior, uma equação indesejável se criou: o Estado precisa transferir doentes hoje no epicentro da crise do Covid-19 para desonerar a rede pública de saúde, mas vários prefeitos têm se declarado contra recebê-los.

Para o gerente médico do sistema Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde), Domingos Napoli, o barulho não se justifica. Nos primeiros oito dias de maio, foram transferidos sete pacientes com quadro respiratório grave, todos levados da região de Franco da Rochae para o AME (Ambulatório Médico de Especialidades) Campinas.

O serviço, que opera com 15 leitos clínicos e 10 de UTI e foi destinado ao tratamento de Covid-19, atende cerca de 80% da região de Campinas e também recebeu doentes de Amparo e Serra Negra.

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“A transferência para o interior não é uma prática que estamos adotando como rotina. É excepcional, do momento, da localização e da necessidade do paciente. Ninguém em Campinas deixou de ser atendido”, afirmou Napoli à reportagem.

É a Cross que que busca o leito mais adequado conforme a gravidade do caso e a disponibilidade de vagas. O número de leitos é a variável mais importante do enfrentamento da pandemia.

Enquanto a capital e a região metropolitana, que juntas perfazem 47,4% da população paulista, somam 82,4% dos 46.131 casos no Estado e 85,9% dos 3.743 óbitos, o interior, com 52,6% da população, paira na faixa dos 15% nos dois casos. Campinas, maior cidade do interior e para onde foram levados os pacientes, computava até esta segunda (11) 615 casos e 26 mortes.

No final de abril, o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann, admitiu a necessidade de transferência para mitigar a pressão nos hospitais públicos. Napoli diz a política deveria ceder espaçø para a necessidade de salvar vidas.

“Estão fazendo uma polêmica em cima deste assunto. O SUS é universal, e a regulação não vai prejudicar ninguém. A Secretaria Estadual da Saúde está aumentando a rede de atendimento e a oferta de leitos” afirma.

“Não acredito no colapso, mas ficaremos em situação difícil, e todos temos que colaborar. Nenhuma região será prejudicada por causa de outra. Campinas está difícil, mas em Piracicaba, Marília e Ribeirão Preto ainda está tranquilo. O ano inteiro acontecem essas transferências quando esgotam os recursos na Grande São Paulo.”

Para Domingos Costa Hernandez Júnior, médico especialista em gestão de serviços públicos de saúde pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), a transferência de pacientes da Grande São Paulo para o interior é uma medida traumática para a família, mas factível e segura.

“É isto ou alguém vai ficar na fila e morrer, como vem acontecendo no Rio de Janeiro. É a saída para evitar um colapso na Grande São Paulo. Ainda não há indícios de que o colapso chegue ao interior, que atualmente tem uma folga no sistema”, afirma Hernandez Júnior.

“A medida não é rotineira e nem regra. É uma saída para a otimização de leitos e não leva risco para a cidade que recebe o paciente.”

Ele explica que a taxa de ocupação de leitos ideal é de até 85%, porque ainda permite a mobilização de pacientes dentro do hospital se houver necessidade –90%, como se vê hoje na região metropolitana, é um patamar crítico.

O diagnóstico epidemiológico da perspectiva de ocupação total dos leitos é caracterizado pelo número de altas ser inferior ao número de admissões. “É o que está ocorrendo, e num momento vai colapsar. Isso está associado à longa permanência dos pacientes em cada leito –cada paciente, quando intubado, fica de duas a três semanas na UTI; se não intubado, de uma a duas, além do período pós-UTI.”

Segundo um estudo do governo estadual apresentado recentemente, caso o índice de isolamento social se mantivesse a 70%, a taxa de transmissão seria de 0,87% e haveria estabilização da doença até o seu desaparecimento. Hoje ele paira em 50%, pouco abaixo disso nos dias de semana e pouco acima em fins de semana e feriados.

A queda desse índice levou o governador João Doria (PSDB) a prorrogar a quarentena, ao contrário do que era esperado. “O fato de as pessoas ficarem em casa diminui o contágio, a frequência de contaminação e a ida ao hospital. A reclusão também diminui a possibilidade de acidentes e outros fatos que levam as pessoas aos hospitais, como acidentes, por exemplo”, afirma Napoli.

Nesta segunda (11), o Estado de São Paulo tinha 3.871 pacientes internados em leitos de UTIs e 5.877 em enfermarias. Os números referem-se a casos confirmados e as suspeitas de Covid-19. A taxa de ocupação dos leitos de UTI reservados para a doença estava em 68,2% no Estado e 89,6% na Grande São Paulo. Das 645 cidades paulistanas, 412 registram casos, e 177 contabilizam mortes.

A pandemia assusta Napoli, que nunca imaginou passar por uma situação tão grave quanto a que o país enfrenta no momento. “Como médico vivi a epidemia de meningite, em meados de 1973, mas nada parecido com o que estou vivendo agora.”

Fonte: O tempo

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