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Brasiliense de coração, Nicolas Behr usa a poesia para desvelar o caldeirão de cultura da capital
Início da reportagem com uma poesia recitada pelo próprio Nicolas Behr: “Naquela noite, Suzana estava mais W-3 do que nunca, toda eixosa, cheia de L-2. Suzana, vai ser superquadra assim lá na minha cama”.
Apesar de ser cuiabano na certidão de nascimento, Nicolas Behr, que nasceu em agosto de 1958, poderia muito bem ter vindo ao mundo na nova capital – ou no canteiro de obras. Pouca gente consegue traduzir tão bem o espírito de Brasília ao longo do tempo quanto ele.
Sonora: “Brasília em termos poéticos é uma folha em branco ainda. E não existe limites para a criação. Acho que ainda vai se escrever muito sobre Brasília. Porque é uma cidade muito nova. Não tem uma tradição poética. E isso é muito bom, pois deixa o poeta muito livre.,”
O plano era ser geólogo, mas chegou a Brasília adolescente e, em 1977, lançou o primeiro livro, “Iogurte com Farinha”, feito em um mimeógrafo – um aparelho que usa álcool para fazer cópias artesanais. Em 78, Nicolas Behr foi preso por causa dos livros e, no ano seguinte, julgado e absolvido. No anos 80 e 90, se engajou no movimento ecológico. Com sete livros publicados, o escritor destaca a diversidade da cena brasiliense.
Sonora: “É impressionante a diversidade. Nós temos aqui, por exemplo, a literatura de cordel. Isso é muito forte por causa da influência nordestina. É um caleidoscópio cultural. Tudo reflete aqui, tudo reverbera aqui em Brasília. Isso é muito rico e deve surgir uma coisa nova, com uma nova linguagem.”
Depois de representar Brasília e o Brasil em festivais nacionais e internacionais, o escritor foi homenageado pelo Instituto de Letras da Universidade de Brasília, que criou o “Prêmio Nicolas Behr de Literatura” para reconhecer novos talentos.
E, falando sobre novidade, Nicolas Behr acredita que hoje ela está nos coletivos que organizam as novas gerações de artistas nas regiões administrativas – ou cidades satélites.
Sonora: “Nós temos aqui todas as tendências, modalidades e formas de fazer poesia, desde a poesia mais clássica, digamos, mais culta, até a poesia de mimeógrafo, poesia visual, poesia concentra. Nós temos um grande poeta aqui, que é o Francisco Alvim. Hoje, 2020, o que tem de mais radical acontecendo em termos poéticos são os coletivos, como os de mulheres, nas cidades satélites, que publicam literatura, não só como literatura, mas também como afirmação social.”
As gerações passam e Nicolas Behr continua contemporâneo. Seja na cantada elegantemente poética que abriu esta reportagem, seja nos versos musicados por bandas como Liga Tripa e Aborto Elétrico, com os quais a gente se despede.
Poesia recitada por Nicolas Behr (Travessia do Eixão): “Nossa Senhora do Cerrado, protetora dos pedestres que atravessam o Eixão às 6 horas da tarde, fazei com que eu chegue são e salvo na casa da Noélia.”
Na reportagem de amanhã, um açougue cultural (cantado pelo repórter).
*Com produção de Renato Lima
Com produção de Renato Lima, Victor Ribeiro, pra Nacional, em Brasília.
Fonte: Ag. Brasil