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Abia busca levar mais eficiência, segurança e sustentabilidade para setor


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Celebrado no dia 16 de outubro, o Dia Mundial da Alimentação é um convite à reflexão. Em um cenário de pandemia, como as pessoas estão se relacionando com os alimentos? Qual a contribuição da indústria para o bem-estar da população?

Em entrevista à Bússola, o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), João Dornellas, revela as tendências do setor, que produz 250 milhões de toneladas de alimentos por ano, sendo responsável por 10,6% (R$ 789,2 bilhões) do faturamento total do PIB. O executivo fala, ainda, sobre a preocupação com a sustentabilidade, aponta novos hábitos de consumo e aborda os investimentos em prol da saúde pública e da segurança do alimento.

Bússola: Estamos chegando a dois anos de pandemia. Neste período, em que as pessoas passaram a cozinhar mais em casa, a preocupação com a saúde e a segurança dos alimentos aumentou?

João Dornellas: Sem dúvida. E essa atenção é uma constante na indústria, que investe, em média, de 3% a 4% do seu faturamento em pesquisa e inovação. No ano passado, R$ 21 bilhões foram direcionados para isso. Adotamos boas práticas que permitem conter a entrada de qualquer agente que possa causar risco à saúde do consumidor. Isso sem falar nas normas de segurança e qualidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) seguidas à risca. Nossos produtos são seguros, caso contrário não seríamos o maior exportador de alimentos industrializados do mundo, atendendo às regras sanitárias de mais de 190 países.

Bússola: Apesar da força dessa indústria, 112 milhões de brasileiros sofrem com algum grau de insegurança alimentar. Como resolver esse paradoxo?

João Dornellas: O problema da fome no Brasil é complexo e tem causas diversas. Não é por falta de alimento, e sim por falta de renda, de condições de acesso. Outra questão importante diz respeito a impostos. A média da carga tributária sobre os alimentos é de 23%, uma das mais altas do planeta. Para os produtos da cesta básica, é de 9,8%. O valor dela consome quase 60% do salário mínimo, pior proporção em 15 anos. Essa situação é agravada pelo contexto econômico atual e pela pandemia, com a perda de emprego e renda. Quando se propõem elevações na carga tributária dos alimentos é preciso ter em mente esses impactos sociais.

Bússola: Em um cenário de insegurança alimentar, impossível não falar do desperdício. Como solucionar esse problema?

João Dornellas: Combater o desperdício de alimentos exige trabalho em todos os elos da cadeia. Se olharmos apenas para o varejo no Brasil, 42,5% das perdas de alimentos não perecíveis têm como causa a data de validade vencida. No país, a regra é clara. Após essa data, o produto não pode ser consumido. Com isso, muitos alimentos industrializados que ainda estariam seguros para o consumo vão parar no lixo.

A Abia defende a adoção do “best before”, um conceito regulatório que significa “consumir preferencialmente antes de”, e que poderia ser aplicado aos alimentos considerados “shelf stable”, ou seja, aqueles estáveis em temperatura ambiente (macarrão, conservas, grãos, sucos de frutas, leite UHT, produtos enlatados) ou os que possuem atividade de água baixa, ou os que passam por processo de esterilização ou ainda os que são embalados a vácuo. Obviamente não se aplica a categorias de alimentos altamente perecíveis.

Não estamos falando em comer comida imprópria, apenas chamando a atenção para que, se um produto foi armazenado de maneira adequada, passada a data, ele pode perder algumas características (uma bolacha ficar menos crocante, por exemplo), mas ainda estar seguro para o consumo.

Bússola: Sobre os novos rumos da indústria, que tendências de consumo podem ser destacadas?

João Dornellas: O consumo de produtos à base de vegetais (plant based), por exemplo, vem crescendo 11% ao ano nos últimos cinco anos. Em uma pesquisa interna com associadas, levantamos que 100% têm a expectativa de que a produção dos plant based cresça. Quase 82% acham que passarão a produzir mais itens para dietas vegetarianas/veganas/flexitarianas e 72% acreditam que os enriquecidos/funcionais ganharão força.

Bússola: Existe uma parcela da população que desaconselha o consumo de industrializados, com o argumento de que não são saudáveis. Os consumidores podem ficar tranquilos?

João Dornellas: Sim, trabalhamos incansavelmente para assegurar a qualidade e o bem-estar. Classificar os industrializados como ruins é uma generalização e uma visão equivocada. Vários tipos de trabalhos científicos raramente conseguem estabelecer relação de causa e efeito entre ingestão de um determinado alimento e seu possível impacto sobre a saúde. Também não é correto afirmar que provocam doenças crônicas: elas são um fenômeno complexo e de causas multifatoriais.

Outra parcela da população reclama que falta proatividade no sentido de adequar os produtos em benefício da saúde pública.

Sempre fomos atuantes no sentido de apoiar políticas que garantam a saúde dos consumidores. Fora toda a inovação no portfólio das indústrias, a Abia tem acordos voluntários, assinados com o Ministério da Saúde, para redução de sódio e açúcares nos alimentos industrializados. As gorduras trans já estão no caminho da eliminação total. Até 2018 contabilizamos 17,2 mil toneladas de sódio a menos nos produtos e, com relação aos açúcares, serão retiradas 144,6 mil toneladas até 2022.

Bússola: Como a indústria se situa neste contexto de valorização cada vez maior das iniciativas sustentáveis?

João Dornellas: Percebemos que as pessoas estão focadas na segurança dos alimentos, mas também no bem-estar social e na preservação do meio ambiente. Responsável por 10,6% do faturamento total do PIB e pelo processamento de 58% de tudo o que é produzido no campo, a indústria se destaca também pela evolução constante em sustentabilidade. Há investimentos nas melhores práticas de gestão e governança, na redução no uso de recursos naturais, na pegada de carbono, economia circular, gestão de resíduos. Atuamos em todas as frentes.

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Fonte: Exame

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