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Prefeitura distribui R$ 3 mi em remédio sem eficácia comprovada contra Covid-19
Desde a última sexta-feira (17), moradores de Paranaguá, cidade no litoral do Paraná, têm formado filas no ginásio de esportes da cidade. A espera, fotografada e divulgada no site da prefeitura, é para passar por um cadastro e triagem e, ao final, receber o vermífugo ivermectina, distribuído como forma de prevenção do agravamento do quadro de Covid-19.
A compra de 1,4 milhão de doses do remédio foi feita com dispensa de licitação por cerca de R$ 3 milhões e está sendo alvo de verificação pelo Ministério Público do Paraná. Entre outros esclarecimentos, o órgão pede que o município apresente o embasamento técnico que justificou a utilização da ivermectina contra o novo coronavírus.
Até então, não há comprovação científica de eficácia do medicamento no combate à Covid-19. O remédio é indicado para sarna, piolho e parasitas intestinais.
A prefeitura alega que a droga tem sido base de vários estudos no Brasil e em outros países e demonstrou ação contra o vírus em testes feitos com células. Apesar de admitir que nenhum medicamento já teve eficácia comprovada contra a Covid-19, o Executivo alega que a ivermectina “tem gerado resultados favoráveis”.
A assessoria do prefeito Marcelo Roque (PV) afirmou que a aquisição se deu de acordo com a lei e que a contratação foi feita com a empresa que ofereceu o menor preço, compatível com o de mercado. Informou também que a proposta de aquisição e distribuição do remédio foi elaborada por um médico do município e conta com aval de profissional da sociedade civil.
Diante do aumento da procura do vermífugo em farmácias, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) criou uma norma que determina que os estabelecimentos passem a exigir receita em duas vias para venda do remédio. A primeira via deve ser retida.
Como justificativa para distribuição do vermífugo, a prefeitura cita a Anvisa, que, apesar de ter admitido em nota que não há evidências do remédio contra o coronavírus, afirmou que não há estudos que refutem seu uso.
“Não temos a expectativa de cura, tratamento milagroso ou uma vacina contra a Covid-19. Nosso intuito é diminuir os casos agravados da doença”, diz a nota do município.
A distribuição da ivermectina no ginásio de esportes do município ocorre em etapas que variam de acordo com a faixa etária dos moradores. Atualmente, estão sendo atendidas pessoas com mais de 30 anos com doenças pré-existentes comprovadas por declaração ou atestado médico.
Cadastro
De acordo com as fotos divulgadas pela prefeitura, as medidas de prevenção ao novo coronavírus, como distanciamento entre as pessoas e uso de máscaras, estão sendo cumpridas. Vários profissionais atuam no local, divididos entre cadastro, triagem, atendimento médico e farmácia. Na saída, o morador também pode tomar a vacina contra a
Paranaguá tem população estimada de 154.936 habitantes e, em apenas três dias, cerca de 2.200 pessoas retiraram o medicamento. A entrega se estenderá por um mês, e a expectativa, segundo a prefeitura, é atender todas as pessoas que tenham interesse em tomar o remédio.
Até esta quinta-feira (23), o município tinha 1.835 casos confirmados do novo coronavírus e 35 mortes causadas pela Covid-19.
A Prefeitura de União da Vitória, cidade de 57.517 habitantes no Centro-Sul do Paraná, também está distribuindo remédios sem eficácia comprovada para tratar a doença.
O site da cidade afirma que o município é um dos “que vêm se destacando” no combate à pandemia por usar o que chama de “Kit Vida”, composto por cloroquina, azitromicina, oseltamivir e sulfato de zinco. O morador que apresentar febre alta também recebe paracetamol ou dipirona.
Segundo a prefeitura, todos os pacientes atendidos nas unidades de saúde do município com sintomas compatíveis com a Covid-19 e que não necessitem de internamento podem receber o kit, que deve ser tomado por cinco dias. Após passarem pelo teste para detectar o novo coronavírus, eles também são orientados a manter o isolamento em casa.
Foram registrados 175 casos do novo coronavírus em União da Vitória e três mortes até agora.
Fonte: O tempo