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Por que a NFL conquistou os brasileiros e pode ser considerada a ‘Disney do esporte’
Disclaimer: este texto a seguir é uma declaração de amor ao suprassumo da experiência esportiva: NFL. Quem escreve aqui é, antes de tudo, um apaixonado pela liga mais valiosa do mundo. Para efeito comparativo, a NFL é a ‘Disney do esporte‘. Afinal, estamos falando de um valuation de R$ 803 bilhões, somando os valores das 32 franquias.
O Brasil tem a segunda maior base internacional de fãs da liga, atrás apenas do México. Segundo pesquisa do Ibope Repucom, 35% da população (41 milhões de pessoas) se declara fã da modalidade. Isso significa que, no último dia 6, o sonho de mais de um terço da população brasileira se concretizou com o primeiro jogo da liga no Brasil. O confronto marcou a vitória do Philadelphia Eagles por 34 x 29 sobre o Green Bay Packers, diante de 47 mil pessoas na Neo Química Arena, em São Paulo.
O início de uma paixão pela NFL
Deixando de lado os rótulos financeiros, vou contar uma história pessoal. Em 2010, na minha adolescência, assisti à transmissão do Super Bowl pela primeira vez. A experiência despertou uma paixão que me levou a explorar mais sobre o esporte. Pouco tempo depois, comecei a praticar flag football, modalidade que jogo até hoje no formato 8×8. Aliás, em 2028, o flag será uma modalidade olímpica no formato 5×5. Mas, além da paixão, o que fascina na NFL é a gestão e o marketing, algo que me deixa cada vez mais admirado.
A NFL supera a Disney?
A comparação entre NFL e Disney não é à toa. Segundo o Camparably, um site que fornece dados de consumidores e funcionários sobre as marcas, o NPS (Net Promotion Score ) da NFL chegou a 44. Esse índice varia de -100 a 100 e mede a satisfação do cliente com sua experiência de consumo. No mesmo ranking, a Walt Disney Company obteve 38 pontos. Interessantemente, a Netflix, líder no ranking de mídia e entretenimento, mesmo em que estão categorizadas Disney e NFL, atingiu 43 pontos.
Private Equity: um novo capítulo
Em termos financeiros, a NFL deu um passo importante recentemente, permitindo investimentos de private equity. Isso significa que, além de indivíduos, agora empresas podem adquirir participações minoritárias nas franquias, algo já comum em ligas como a Premier League e a NBA, e até mesmo no Brasileirão.
Escassez e storytelling consolidados
O calendário da NFL é bastante peculiar. A temporada regular dura apenas metade do ano, criando um sentimento de escassez. Embora a pré-temporada tenha iniciado em agosto, a regular começou apenas no último dia 5, com a vitória do Kansas City Chiefs sobre o Baltimore Reavens. Já o Super Bowl, que é a grande final do campeonato, acontece tradicionalmente no segundo domingo de fevereiro do ano seguinte, sempre com a sede previamente definida antes do início do campeonato.
Mas engana-se quem pensa que a liga fica parada durante metade do ano. Vale lembrar que a NFL é uma marca de entretenimento que mantém os fãs engajados o ano todo. Na off season, ou seja, no período sem jogos, a liga estabelece diversos pontos de contato com seu público. Guardadas as devidas proporções, é como o Carnaval: assim que um termina, o outro já começa a ser preparado.
No caso da liga de futebol americano, tomando como exemplo este ano, houve o franchise tag (prática de extensão contratual de jogador), o combine (evento de avaliação técnica que reúne os principais jogadores universitários que desejam entrar na NFL), a abertura da free agency (período de negociação com atletas sem contrato com qualquer time), o draft (evento de escolha de jogadores do futebol universitário) e a divulgação do calendário de jogos. Esses eventos ocorrem entre o final de fevereiro e maio. Pouco tempo depois, os times retomam os treinos e já começam a preparação para a temporada seguinte.
Basicamente, a off season serve para gerar uma expectativa para a temporada e provocar o sentimento de “quero que chegue logo setembro”.
A NFL é uma máquina de furar bolhas
Nos EUA, é comum que artistas estejam presentes em vários jogos da NFL. Porém, nos últimos anos, especialmente no ano passado, a liga ganhou uma grande aliada: Taylor Swift. Seu relacionamento com Travis Kelce, jogador do Kansas City Chiefs, atual bicampeão da liga, e sua presença nos jogos fizeram a procura por ingressos triplicar, assim como as vendas de camisas de Kelce, que aumentaram, à época, 400%.
E se você pensa que apenas a NFL saiu ganhando, está enganado. A cantora obteve uma publicidade ‘gratuita’ e viu sua turnê ‘Eras Tour‘ ser amplamente divulgada pelas emissoras que detêm os direitos de transmissão. Por outro lado, ela ajudou a alavancar a audiência do futebol americano entre mulheres de 12 a 49 anos.
O impacto da NFL no Brasil
Segundo dados do Ibope Repucom, 31% da população verde-amarela é fã da modalidade. Em números, 41 milhões de brasileiros consomem algo relacionado à bola oval. Fora dos EUA, apenas o México supera o Brasil nesse quesito. Sobre a prática, o futebol americano equipado também é jogado aqui. Além dele, o flag football tem ganhado espaço, especialmente entre mulheres e crianças. A modalidade será olímpica em 2028 e está crescendo no Brasil, que conta com mais de 5 mil atletas.
“Segundo os últimos dados do Ibope Repucom, 31% da população verde-amarela é fã da modalidade. Em números, 41 milhões de brasileiros consomem algo relacionado à bola oval. Fora dos EUA, apenas o México supera o Brasil nesse quesito. Sobre a prática, o futebol americano equipado também é jogado aqui.
Além dele, o flag football virou uma paixão. O formato mais popular, e que estará nas Olimpíadas, é o 5×5 (cinco contra cinco), que tem atraído mais mulheres e crianças. No entanto, ele também é disputado nos formatos 9×9 e 8×8 (eu jogo nesse, por exemplo). Segundo a CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano), estima-se que o Brasil tenha mais de 5 mil atletas. No Mundial de Flag 5×5, realizado no final de agosto na Finlândia, o time feminino terminou na 13ª posição (de 23 equipes) e o masculino em 25º (de 32 equipes).
Isso ajuda a explicar por que a Prefeitura de São Paulo projetou um impacto econômico de R$ 337 milhões com a vinda do jogo para o Brasil. O valor inclui a NFL Experience e a NFL Run, realizadas no Parque Villa-Lobos, também na capital paulista. A NFL, por outro lado, não poderia ter feito escolha mais acertada ao selecionar Anitta, Luisa Sonza e o cantor Zeeba para se apresentarem durante a partida do último dia 6.
Marcas e ativações durante o evento
O sucesso da NFL no Brasil não passou despercebido para as marcas. A partida entre Philadelphia Eagles e Green Bay Packers, em São Paulo, contou com mais de 30 marcas envolvidas, entre patrocinadoras oficiais e aquelas que, de alguma forma, aproveitaram a chegada da liga ao país, seja por meio de licenciamentos ou ativações.
Um exemplo é a rede de hotéis oficial da liga, Marriott, que, por meio de seu programa de fidelidade, Marriott Bonvoy, vai sortear uma viagem com tudo pago para o próximo Super Bowl em New Orleans. Já a Ambev, além de anunciar a Beats como patrocinadora do halftime show da Anitta, promoveu ações com a Budweiser, parceira global da NFL, e trouxe Adam Vinatieri para ‘bater uma bola’ com Denílson, do futebol, e Falcão, do futsal, na Ponte Estaiadinha.
Haverá mais jogos da NFL no Brasil?
Quem esteve no jogo, como eu, percebeu que a experiência valeu a pena em cada momento. Entretanto, mesmo com o sucesso da organização em São Paulo, ainda é cedo para afirmar se a Arena Corinthians voltará a receber partidas. O próprio comissário da NFL, Roger Goodell, admitiu que ‘há muitas cidades brasileiras interessadas’ e que ‘o Rio de Janeiro está batendo à porta’, sendo, portanto, ‘uma possibilidade’. No entanto, ele não mencionou nenhuma data específica. Para 2025, uma partida já foi confirmada em Madri, no Santiago Bernabéu.
Como acompanhar a NFL no Brasil
Se você ainda não foi impactado pela NFL, há várias formas de se conectar. Seguindo a lógica da liga, em algum momento se conectará com algo ou alguém com quem você interage – seja por meio de filmes, artistas, Super Bowl, entre outros. Há muitas maneiras de ser impactado, aqui vão algumas sugestões:
1 – ESPN, Disney+ e Cazé TV: para assistir ao campeonato, é possível acompanhar pelos canais ESPN e pelo serviço de streaming Disney+. Este ano, a Cazé TV também adquiriu os direitos de transmissão dos jogos internacionais, ou seja, qualquer partida realizada fora dos EUA nesta temporada poderá ser assistida pelo canal. Além do jogo na Arena Corinthians, estão previstas mais quatro transmissões internacionais.
2 – Redes sociais: além dos perfis oficiais da NFL, é possível se familiarizar com páginas brasileiras especializadas no assunto. Destaco o perfil oficial da NFL no Brasil (@NFLBrasil) para notícias da liga em português. O Pink Zone Brasil (@PinkZoneBrasil) se propõe a ‘descomplicar’ o esporte, sendo uma boa pedida para iniciantes. Para quem prefere análises mais profundas, os comentaristas da ESPN Anthony Curti (@anthonycurti) e Paulo Antunes (@PauloAntunesOficial) são especialistas. Já para acompanhar o futebol americano no Brasil, vale conferir o Mapa do Futebol Americano BR (@mapadofabr) e o Salão Oval (@salaooval_fabr). Focado no flag football, há o perfil Flag Football Brasil (@flagfootballbrasil).
3 – Você no controle: se preferir uma experiência virtual, recomenda-se o game Madden NFL para consoles e PC, ou o Madden NFL Mobile para smartphones. O segundo pode ser baixado gratuitamente e permite partidas online.
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Fonte: Exame