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Rondônia, segunda, 07 de outubro de 2024.




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Patrão quer menos home office que funcionário


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Brasileiros gostariam, em média, de trabalhar 2,3 dias em casa na reabertura pós-pandemia, mas empregadores só querem 0,8 dia de home office, também em média.

Os dados são do estudo Working from Home Around the World (Trabalhando em casa ao redor do mundo), feito por seis pesquisadores, entre eles o professor do Departamento de Economia da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, Nicholas Bloom.

O Brasil (ao lado do Egito) é o país em que a distância é maior entre o que os trabalhadores desejam e o que as empresas estão dispostas a ofertar em dias fora do escritório.
Em média, hoje as pessoas estão trabalhando 1,5 dia em casa (sendo 1,7 no Brasil). Os países asiáticos concentram os maiores e menores indicadores: na Índia, esse patamar chega a 2,6 dias e é mais baixo na Coreia do Sul (0,5 dia).

À Folha de S.Paulo, Bloom afirma que os estudos mostram que em diferentes países esses funcionários trabalham de forma mais produtiva em casa, são mais felizes e têm menos vontade de deixar a empresa.
“Empregadores estão adotando o home office não por serem obrigados, mas por isso gerar lucro. O melhor impulsionador do trabalho remoto é o fato de melhorar os resultados financeiros da empresa.” Ele diz que as companhias nos EUA e na Europa tendem a ser mais abertas ao trabalho em casa. “Na América do Sul, ainda estão um pouco atrás. Um fator é a cultura, outro é a estrutura de moradia -é preciso ter espaço físico, principalmente para um casal poder trabalhar em casa.”
Bloom avalia que as empresas ainda esbarram na baixa capacidade de gestão para o trabalho em casa, que demanda boas ferramentas de avaliação de desempenho. “Como você não pode estar com o funcionário, é preciso revisar processos para garantir que eles estejam realmente trabalhando.”
Isso explicaria o maior número de trabalhadores híbridos (que passam dias em casa e no escritório) e remotos no Brasil estar concentrado nas empresas de grande porte, principalmente as multinacionais, que têm bons sistemas de gestão de desempenho.
“As empresas menores, tipicamente de gestão familiar, tendem a ser mais informais e dependem da gestão direta, o que é difícil de fazer remotamente”, diz o pesquisador.
Na avaliação do pesquisador do FGV Ibre Fernando Veloso, a divergência entre a vontade de empresas e trabalhadores ocorre porque nem sempre os benefícios que o funcionário percebe ao ficar em casa são valorizados pelas empresas.
“Os trabalhadores em geral declaram ter tido um aumento de produtividade em trabalhar em casa superior ao aumento percebido pelos empregadores, que em grande medida está relacionado ao tempo economizado no deslocamento para o trabalho.”

A pesquisa com os 27 países espelha médias amostrais, com grupos de trabalhadores de tempo integral, com um nível de formação relativamente bom e que têm acesso a smartphones, computadores e similares para responder a uma pesquisa online.
Foram feitas duas rodadas, na metade de 2021 e no início de 2022, com trabalhadores de 18 setores da indústria de idades de 20 a 59 anos.
Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores foi o percentual do salário que os trabalhadores estariam dispostos a trocar por 2 ou 3 dias trabalhando fora da empresa.
Na média, eles estariam dispostos a perder 5% de seu salário habitual por essa oportunidade -entre os entrevistados brasileiros, esse percentual vai a 7,4%.
Bloom argumenta que isso deixa claro como trabalhar em casa não apenas é algo vantajoso para os funcionários, quanto oferece uma enorme oportunidade de restruturação para as empresas.
Veloso ressalta que essa é uma média, mas o valor que o funcionário aceita perder pela chance de trabalhar de casa deve variar bastante.
“Provavelmente quem se diz disposto a ter uma redução de salário não teve perda significativa de renda real durante a pandemia.”
Apesar de as novas modalidades de trabalho terem ficado mais comuns com a crise sanitária, os estudos sobre trabalho remoto e híbrido no Brasil e em outros países mostram que essa é uma realidade para uma minoria de trabalhadores de escolaridade maior.
“Ter ensino superior completo aumenta muito a probabilidade de o trabalhador poder fazer home office. A razão é que trabalhadores com maior escolaridade em geral têm ocupações mais intensivas em tecnologia ou que se adaptam melhor a esse modelo, como profissionais liberais e de tecnologia da informação”, diz Veloso.
Um levantamento da Catho apontou que as vagas de home office cresceram 496% no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período de 2021. Esse aumento se deu, sobretudo, nos anúncios em busca de programadores, consultores comerciais e analistas de testes.
Recentemente, uma reportagem da Folha de S.Paulo também mostrou que, mesmo com a reabertura da economia com o avanço da vacinação, as maiores empregadoras do país mantinham parte de suas equipes em trabalho híbrido e não tinham planos de suspender a modalidade reforçada com a pandemia.

Trabalhando como linguista para uma empresa de teleatendimento, Vanessa Serrani comemora a possibilidade de manter o emprego em uma companhia sediada em São Paulo e continuar morando com a família no Centro-Oeste. “A liberdade e o apoio que temos são únicos. Não penso em voltar ao presencial.”
Na avaliação de Bloom, a concorrência deve forçar a empresa a adotar mais o trabalho em casa. “Se você estiver em disputa com outras empresas, qualquer coisa que o torne mais produtivo e mantenha os funcionários felizes será adotada.”
Por outro lado, ele diz acreditar que as forças do mercado levarão as empresas brasileiras a adotar o trabalho em casa para aumentar os lucros e crescer. “Vimos isso nos EUA, onde o trabalho em casa agora é amplamente adotado como prática para melhorar o desempenho do funcionário.”
Ele ressalta que a adoção do trabalho híbrido não é algo que precise ser pressionado pelos governos, pois as empresas tendem cada vez mais a permitir que os funcionários trabalhem em casa um, dois ou até três dias por semana como forma de aumentar as vendas e economizar custos.
Para o especialista em direito do trabalho Ricardo Calcini, com a nova legislação trabalhista do teletrabalho no Brasil, a empresa pode obrigar o funcionário a retornar ao sistema presencial, bastando que essa comunicação seja feita com no mínimo 15 dias de antecedência.
“Caso fique estabelecida uma jornada híbrida, isso deve ser registrado em contrato, porque a lógica da legislação do teletrabalho ou trabalho à distância é que essa sistematização do regime híbrido seja definida em termo aditivo contratual.” (Douglas Gravas/Folhapress)
 

Fonte: O tempo

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