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Mesmo sob pandemia, Pantanal tem recorde histórico de queimadas no início do ano
Mesmo com a pandemia de Covid-19 em curso no Brasil, o Pantanal tem o início de ano com maior número de queimadas já registrado no bioma, como mostram os dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Os meses de março e abril são os que mais chamam a atenção, ambos com os maiores valores já registrados para esses meses. Respectivamente, foram 602 e 784 focos de calor no bioma.
O ano de 2019 já tinha sido de recorde de queimadas no bioma, com o maior número de focos nos últimos 16 anos. Em relação aos primeiros três meses de 2019, houve um aumento nas queimadas de 169%.
Além do número de focos, a área queimada no bioma também é a maior já registrada pelo Inpe em um início de ano. Entre janeiro e março (os dados de área destruída de abril ainda não estão disponíveis), foram queimados 1.628 km² do Pantanal. A segunda colocação é ocupada por 2019, com 1.172 km².
Segundo Cássio Bernardino, analista de conservação do WWF-Brasil, o cenário é preocupante, principalmente por ainda não estarmos na estação do fogo, que normalmente começa a partir do meio do ano no bioma.
A WWF-Brasil aponta que os municípios mais afetados pelos incêndios são Corumbá, Poconé e Porto Murtinho.
Bernardino afirma que o início deste ano é atípico, com tempo mais seco e poucas chuvas. Mas isso, sozinho, não explica o elevado número de incêndios na área. “O fogo é parte do manejo da pastagem, é parte do dia a dia do pantaneiro. Só que às vezes os incêndios saem do controle. Mas existem modos para substituir o uso do fogo, que não é a técnica ideal.”
O Parque Nacional do Pantanal Matogrossense e regiões da Serra do Amolar são as áreas de maior preocupação, afirma Bernardino. Além da questão da biodiversidade e da preservação do parque nacional, o especialista afirma que são regiões de mais difícil acesso, principalmente ao se considerar o momento de isolamento social necessitado pela pandemia.
A saúde da população das áreas mais afetadas pelos incêndios também é uma preocupação. A fumaça das queimadas eleva os problemas respiratórios e, consequentemente, faz crescer a procura por serviços de saúde por causa de dificuldade para respirar.
O contexto se torna ainda mais grave ao se levar em conta a pandemia do novo coronavírus, que causa uma ocupação significativa dos serviços de saúde nacionais.
Mesmo sendo um bioma que tem algumas adaptações às chamas, (diferentemente do que ocorre na Amazônia), o fogo no Pantanal não costuma ocorrer com essa frequência e intensidade, diz o especialista da WWF-Brasil.
“O Pantanal é um bioma um pouco esquecido, mas é um bioma único. É a maior área úmida continental do planeta. E, proporcionalmente, queimou mais que a Amazônia no ano passado. Precisamos de mais atenção e estrutura de combate ao fogo para o pantanal”, diz Bernardino.
As queimadas marcaram o ano 2019 no Brasil. Em agosto, o país viu uma explosão nos focos de incêndio, principalmente na Amazônia, uma floresta úmida que não tem o fogo como parte de seu funcionamento normal –o que indica que os incêndios que nela ocorrem são causados por pessoas.
O fogo faz parte do processo de desmatamento, e a derrubada de floresta têm crescido constantemente sob o governo Jair Bolsonaro (sem partido).
Com as queimadas, a nova política ambiental brasileira virou foco internacional de atenção e sofreu diversas críticas de países europeus. A questão se ampliou até o ponto do presidente brasileiro ofender Brigitte Macron, mulher de Emmanuel Macron, mandatário francês. Bolsonaro depois negou ter feito a ofensa.
Durante a crise ambiental, o presidente brasileiro também tentou desviar a responsabilidade do desmatamento e do agronegócio pelas queimadas. Bolsonaro, sem apresentar quaisquer provas, chegou a afirmar que ONGs poderiam estar envolvidas nos incêndios na Amazônia.
O fogo também marcou outra região do mundo no final de 2019 e início de 2020.
A Austrália enfrentou uma das piores temporadas de fogo do país. Especialistas apontaram que a mudança climática poderia ter algum peso na equação. O ano de 2019 foi o ano mais seco e o mais quente da história australiana.
Os incêndios fazem parte da história da Austrália, onde o bioma é adaptado a regimes de fogo. As queimadas recentes, porém, foram mais intensas e abrangentes do que o normal, ao ponto da fumaça chegar em terras brasileiras.
Algo semelhante ocorreu durante as queimadas na Amazônia, quando parte da fumaça chegou a São Paulo e fez o dia escurecer no meio da tarde.
Fonte: O tempo