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Linkedin exclui anúncio que dava preferência a negros e indígenas
A publicação de uma vaga que dava prioridade, na seleção, a pessoas negras e indígenas foi retirada do ar pela rede social voltada a trabalho LinkedIn. A candidatura foi aberta pelo Laut (Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo), que buscava contratar alguém para a coordenação do setor administrativo e financeiro.
O LinkedIn diz que as políticas de publicação de vagas não permitem vagas que excluam ou demonstrem preferência por profissionais. A restrição vale, segundo a empresa, para quaisquer tipos de características, sejam elas idade, gênero, raça, etnia, religião ou orientação sexual.
O anúncio feito pelo centro de pesquisa descrevia quem teria prioridade na seleção: “como parte das ações afirmativa do Laut para valorizar a pluralidade da equipe, esse processo seletivo dá preferência a pessoas negras (pretas e pardas) e indígenas.”
Além disso, trazia informações típicas de uma publicação de vaga de emprego: a carga horária de 20 horas semanais e a expectativa de que o profissional contratado gerenciasse as rotinas financeiras, administrativas e de pessoal da entidade.
Dias depois de publicado, o anúncio foi retirado do ar. O suporte do site informou que a postagem havia sido retirada do ar por ter sido considerada discriminatória. O funcionário da rede social não detalhava o que havia sido considerado discriminatório, mas, para o Laut, não há dúvida de o alvo era a preferência por pessoas negras e indígenas.
O LinkedIn afirma que suas políticas são detalhadas, transparentes e aplicadas a todos os usuários da plataforma em todo o mundo, e que parte do entendimento de que pessoas com os mesmos talentos devem ter acesso às mesmas oportunidades.
“Entendemos que em alguns países, como o Brasil, a legislação permite que empregadores apliquem esses critérios em seus processos de seleção. Revisitamos regularmente nossas políticas para garantir que apoiamos a diversidade e a inclusão de candidatos no LinkedIn e, consequentemente, no mercado de trabalho”, diz a plataforma.
O pesquisador do Laut, Conrado Hübner Mendes, colunista da Folha, diz que o combate à discriminação estabelecido pelo LinkedIn em suas políticas é positivo. Porém, considera estapafúrdia a interpretação da regra em relação à preferência por candidatos negros e indígenas.
“O Brasil tem um acúmulo de políticas públicas para expandir ações afirmativas, com cotas em universidades, cotas em partidos, cotas em empresas. Foi um assunto que suscitou debates jurídicos intensos, mas houve uma estabilização de que esse tipo de ação não é compatível como é desejável”, afirma Hübner, que é professor de direto da Universidade de São Paulo.
O pesquisador defende que a priorização de grupos nas seleções para vagas por meio das chamadas ações afirmativas buscam melhorar o acesso de quem acabava excluído desses processos.
Ele lembra o caso do programa de trainee aberto pela rede Magazine Luiza em 2020, para o qual só foram selecionados mulheres e homens pretos.
O anúncio gerou reações acaloradas contra e a favor da iniciativa. Na época, até juízes do trabalho vieram a público criticar a decisão da rede, que consideravam discriminatória, por dar exclusividade a candidatos negros.
Depois da rede de varejo, outras empresas lançaram programas de seleção similares, com reserva de vagas para candidatos negros ou seleções exclusivas. A Folha organiza, neste ano, a segunda edição para um treinamento destinado a profissionais negros. A primeira foi em 2021.
No início deste ano, a roteirista e podcaster Deia Nunes, do Não Inviabilize, foi alvo de uma onda de ataques por meio do Twitter depois que anunciou uma vaga de trabalho para a qual selecionaria somente mulheres pretas, pardas e indígenas. (Com Folhapress)
Fonte: O tempo