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Rondônia, quarta, 26 de junho de 2024.




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Dolarização na Argentina: peso tem queda recorde perto da eleição; entenda como a crise começou


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A menos de três semanas das eleições presidenciais, o dólar teve nova disparada na Argentina. Na tarde de sexta, 6, cada dólar era vendido, no final do dia, a 880 pesos na cotação paralela (blue), um recorde histórico. Há uma semana, o valor era de 800 pesos. Na cotação oficial, inacessível para a maioria dos argentinos, cada dólar é vendido a 365 pesos.

Nesta sexta, a moeda americana teve alta em várias partes do mundo após a divulgação de dados de contratações nos EUA, que vieram acima do esperado. No entanto, o dólar já vinha subindo na Argentina ao longo da semana, por conta da proximidade das eleições. No domingo passado, foi realizado o primeiro debate entre os candidatos.

Javier Milei, candidato ultraliberal que lidera as pesquisas, defende medidas radicais, como extinguir o Banco Central e adotar o dólar como moeda de fato do país. No entanto, economistas apontam que para dolarizar a economia é preciso ter uma grande quantidade de moeda estrangeira em caixa, algo que o país não tem.  E que sem controle das contas públicas, a inflação deve seguir desenfreada.

Em segundo lugar nas pesquisas, o candidato Sergio Massa, atual ministro da Economia, gera preocupações no mercado por tomar medidas que devem acabar desvalorizando ainda mais o peso. Em setembro, Massa anunciou pagamentos extras para beneficiários de programas sociais, às vésperas da eleição, que vão colocar mais pesos em circulação, o que pode piorar a inflação. Ele também determinou cortes de impostos para autônomios. O pacote foi apelidado de plan platita. (“plano dinheirinho”, numa tradução livre).

Segundo um compilado das últimas pesquisas divulgadas entre o fim de agosto e 1º de outubro, elaborado pelo jornal “El País”, Milei tem atualmente 35,3% dos votos, ante 30% de Sergio Massa, candidato governista e de esquerda, e 25,9% de Patrícia Bullrich, de centro-direita e ligada ao ex-presidente Mauricio Macri (2015-19). Se os percentuais se mantiverem, haverá segundo turno entre Milei e Massa, a ser disputado em 19 de novembro.

Javier Milei, candidato à Presidência da Argentina, durante debate no domingo, 1º de outubro

Como começaram os controles sobre o dólar na Argentina

A relação da Argentina com o dólar é complexa, embora por uma razão simples: há grande procura pela moeda americana, mas ela está em falta. Para lidar com o problema, o governo adotou uma série de regras para dificultar o acesso aos dólares ao longo dos anos, que deram origem a um sistema complicado e a um forte mercado paralelo.

O modelo atual de controle cambiário, apelidado de “cepo”, foi criado em 2011, no governo de Cristina Kirchner, para dificultar o acesso aos dólares, com o objetivo de tentar frear a desvalorização do peso. Com isso, empresas que precisam da moeda estrangeira, para pagar importações ou empréstimos ou remeter lucros ao exterior, por exemplo, dependem de aprovação de um órgão estatal, a Afip.

No entanto, com a dificuldade de acesso, ganhou força o mercado paralelo, apelidado de “dólar blue”. Embora operado de maneira irregular, a cotação do blue é divulgada com destaque. Seu valor serve como termômetro da economia argentina e referência para transações do dia a dia. É comum que argentinos comprem dólares no mercado paralelo para fazer poupança, por exemplo.

Em 2015, o governo de Mauricio Macri acabou com os controles para acesso aos dólares. Isso fez que o peso tivesse queda de 40% na cotação em 24 horas e a procura pela moeda americana disparasse. Nos anos seguintes, o peso desvalorizou muito: passou de cerca de 9 pesos por dólar em 2015 para mais de 60 pesos em 2019.

Dada a queda forte do peso, o governo Macri, perto da eleição de 2019, voltou a colocar limites para a compra de dólares em 2019. Primeiro, estabeleceu um limite de US$ 10 mil mensais por pessoa, que logo foram reduzidos para US$ 200.

O aperto realizado por Macri, que perdeu a reeleição, fez com que a distância entre a cotação oficial e paralela ganhasse mais força. Eleito em 2019, o presidente Alberto Fernández, manteve as restrições e foi acrescentando outras, como um imposto de 30% sobre as compras de dólar. Ao mesmo tempo, foram sendo criados novos tipos de câmbio, que somam mais de 12. Abaixo, alguns deles, com cotações na tarde de sexta, 6 de outubro:

Dólar blue: apelido da cotação informal da moeda, vendida de modo irregular, sem exigências para o comprador. 885 pesos.

Dólar mayorista (atacado): usado por importadores e bancos para transações no exterior. 350 pesos.

Dólar minorista (varejo): voltado para pessoas físicas, com limite de US$ 200 mensais. É preciso justificar a compra, como a realização de uma viagem ao exterior. 365 pesos.

Dólar tarjeta (cartão): usado para pagamentos internacionais com cartão de crédito, como assinatura de streamings. Por isso, ficou apelidado de “dólar Netflix”. Usa o câmbio minorista mais taxa de 45%. 632 pesos.

Dólar MEP : taxa usada para a venda de títulos públicos. Compra-se um título do governo em pesos, que pode ser vendido em dólares. Também serve como referência para uso no mercado de ações. 812 pesos.

Dólar turista: cobrado de argentinos que viajam ao exterior e fazem pagamentos com cartão de crédito. 659 pesos.

Dólar soja: usado por exportadores, para receber pagamentos em dólares pelos produtos vendidos, especialmente a soja.

Dólar Vaca Muerta: similar ao dólar soja, usado para pagar a exportação de petróleo e derivados extraídos na região de Vaca Muerta.

As propostas dos candidatos

Javier Milei defende acabar com os controles e liberar o mercado de compra e venda de dólares. Ele planeja extinguir o Banco Central e fazer com que os argentinos façam transações na moeda em que preferirem. Isso, avalia ele, faria com que o peso fosse abandonado.

Sergio Massa tem falado pouco sobre seus planos para o cepo, mas disse em uma entrevista que pretende reverter a medida aos poucos, para não gerar uma queda ainda mais brusca no valor do peso. Já Patrícia Bullrich, candidata de direita e ligada ao ex-presidente Mauricio Macri, defende acabar com o “cepo”, mas antes tomar medidas para conter o déficit fiscal e proteger investimentos estrangeiros.

Fonte: Exame

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