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Com “WeWork dos médicos”, startup brasileira recebe aporte mesmo na crise
A tecnologia já permite compartilhar casas, carros e escritórios de trabalho. Estudando esse mercado de compartilhamento, a startup brasileira Livance decidiu ir além e ajudar os profissionais de saúde a reduzir custos operacionais e a expandir sua rede de pacientes. A empresa permite que médicos, nutricionistas e psicólogos utilizem salas em vários pontos da cidade pagando pelo tempo de uso do espaço.
Criada em 2017 pelos sócios Gustavo Machado, Fábio Soccol e Claudio Mifano, a Livance administra cinco clínicas com 75 consultórios nas cidades de São Paulo e Campinas. Para expandir o negócio, em julho, a startup captou um investimento seed de valor não divulgado liderado pelo fundo brasileiro Astella Investimentos. “Vamos inaugurar mais duas unidades até o final do ano e crescer a operação três vezes em relação a 2019”, diz Claudio Mifano, presidente e cofundador da startup.
Para a Astella, o investimento na startup foi motivado principalmente pela capacidade da empresa de agregar dados de uso dos clientes para continuamente entregar um serviço mais eficiente para eles. “Além disso, tem o efeito físico da própria capilaridade da rede, que abre novas possibilidades de atendimento para os profissionais de saúde”, diz Daniel Chalfon, sócio da Astella.
Os sócios se conheceram nos Estados Unidos, quando Machado e Mifano faziam MBA em negócios na Universidade de Stanford. Ao final do programa, conheceram Soccol, que é médico, e decidiram empreender juntos na área. Conseguiram investimento de alguns family offices para tirar o projeto do papel em 2017. No final de 2018, os mesmos investidores voltaram a investir na startup.
Como funciona o serviço
Os profissionais de saúde precisam pagar uma assinatura de 236 reais por mês e mais 1 real por minuto em que ficam dentro do consultório atendendo. Quando estão sem pacientes, podem dividir um espaço comum de trabalho com outros clientes da Livance. Além disso, a companhia oferece um sistema eletrônico de agendamento, com dez secretárias dedicadas a gerir a marcação das consultas para todos os profissionais da rede.
Nas unidades da startup, o paciente realiza o processo de cadastro e pagamento sozinho. Em um totem de atendimento, ele informa que chegou e aguarda ser chamado pelo profissional de saúde. Para garantir o funcionamento do serviço, um atendente fica sempre à disposição na sala de espera. Na saída, o pagamento da consulta também é realizado pela plataforma, que já está integrada ao sistema da Porto Seguro, por exemplo. Em caso de outros convênios e autorizações de exames, o próprio médico se encarrega do procedimento.
Segundo a companhia, com o serviço, além do médico ter flexibilidade para atender em mais pontos da cidade, ele consegue uma redução de custo mensal de até 60% com o consultório. Para a conta, a empresa considera que um profissional pode chegar a desembolsar cerca de 10.000 reais por mês em São Paulo com gastos como aluguel, condomínio, internet, energia e secretária particular.
Nos primeiros anos da startup, os principais profissionais que usavam o serviço eram recém-formados. Com o tempo e as indicações, médicos, psicólogos e nutricionistas mais experientes migraram para o modelo da Livance.
“O profissional que fica cinco dias no consultório é cada vez mais raro”, diz o presidente da startup. Entre visitas ao hospital, tempo de estudo, congressos e férias, os profissionais acabam não passando tanto tempo na própria sala. Considerando essa realidade, a possibilidade de atender em mais de um ponto da cidade é positiva. Atualmente, 40% dos clientes da startup marcam consultas em mais de uma unidade da rede.
Crescimento na crise
Na pandemia, o modelo da Livance se mostrou vantajoso para os profissionais de saúde, que conseguiram reduzir os custos na mesma proporção em que houve a queda no número de consultas realizadas por mês. Para a empresa, no entanto, essa diminuição na demanda resultou em uma queda de 35% no faturamento em abril.
Apesar disso, a startup atraiu novos clientes com seu modelo flexível. Durante o período, houve um crescimento de 20% na base de assinantes do serviço. Hoje, mais de 1.100 profissionais liberais utilizam os serviços da empresa. Com isso, em junho, o faturamento retornou ao patamar anterior ao da pandemia.
Trabalham na Livance hoje 56 funcionários e há 12 vagas abertas. A meta é ampliar o time de tecnologia para poder aprimorar a usabilidade do aplicativo e lançar novos produtos e funcionalidades para os assinantes. Até o final do ano, o plano é chegar a um faturamento três vezes superior ao de 2019. Para o ano que vem, o objetivo é começar a abrir unidades em outros estados do país.
“O desafio é conseguir escalar a operação com qualidade, mantendo a cultura inovadora da empresa”, diz Mifano.
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Fonte: Exame