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Rondônia, terça, 01 de outubro de 2024.




Nacional

Centrão tenta atualizar campanha de Bolsonaro, que insiste em táticas de 2018


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O núcleo da campanha pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), comandado pelo Centrão, tem se preocupado com a insistência no uso de estratégias desconectadas da realidade do país em 2022.

Os aliados políticos do presidente que integram esse comitê de campanha buscam convencer Bolsonaro a adotar um tom moderado nas entrevistas, lives e discursos, que seja mais focado na agenda positiva do governo federal e menos ideológico – sobretudo quando se trata dos ataques às vacinas e ao sistema eleitoral. 

De acordo com o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), vice-presidente da legenda, com bom trânsito entre as lideranças do Centrão no Congresso Nacional e o Planalto, Bolsonaro deverá manter ainda por um tempo a estratégia desenhada principalmente por Carlos Bolsonaro (Republicanos) – filho 02 e vereador pelo Rio de Janeiro. 

O parlamentar sinaliza que há outra sendo articulada pela cúpula do Centrão governista. “Existe o consenso entre aliados de que o presidente precisa focar nas ações políticas do governo na campanha. Agora, quais ações vão ser destacadas ainda está sendo discutido pelo alto escalão do Planalto”, explicou o deputado federal a O TEMPO

De um lado o Centrão, do outro a família Bolsonaro

Até o momento, no entanto, o chefe do Executivo não demonstra que vai abandonar o tom bélico nestas eleições, ainda mais diante das pesquisas de intenção de voto mais recentes, que seguem indicando a liderança do petista e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Também não indicou que vai afastar Carlos do comando das mídias digitais. Ao contrário, o mandatário afirmou, em entrevista à Jovem Pan, que Carlos ainda “mexe” nas redes sociais do pai e interfere nas publicações do governo. 

“Face, Telegram, Twitter passam pelo crivo dele. Uma pessoa que não ganha nada do governo federal. Faço questão que um dos meus filhos me acompanhe nessas oportunidades”, disse, na última quarta-feira (16), quando ainda estava na Rússia, acompanhado por ministros e o vereador.

Estratégias que perderam a validade para 2022

Embora a campanha comandada por Carlos em 2018 tenha sido a vitoriosa, parte considerável das estratégias utilizadas perderam a validade em quatro anos, de acordo com a avaliação de João Villaverde, cientista político, professor e pesquisador do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da FGV-SP.

“Em 2018, Bolsonaro ganhou uma eleição muito diferente. Nela, o país estava no auge do contexto do antipetismo, lavajatismo, anticorrupção e de mudança total no imaginário coletivo. Na vizinhança [com outros países], havia governos de direita. Tinha ali um contexto geral de grandes mudanças”, explica o especialista.

“O contexto das eleições de 2022 é muito diferente e está especialmente focado no antibolsonarismo. Essa é uma força social recente no país, o que gera desespero no presidente. Mesmo as candidaturas que não estão liderando e não são de esquerda, como do João Doria [PSDB] e da Simone Tebet [MDB], também são contrárias ao Bolsonaro”, acrescenta Villaverde.

Acompanhando essa perspectiva, Fernando Guarnieri, cientista político e professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), aponta alguns dos principais desafios da campanha de reeleição de Bolsonaro.

“A campanha dele vai ter que trazer alguma ação positiva do governo, rebater os ataques dos outros candidatos e responder às insatisfações da população, apontadas pelas pesquisas. O governo terá que desenvolver uma agenda para tudo isso”, analisa o cientista político.

“Ele vai ter que recorrer ao modo de fazer campanha que os governantes em geral utilizam, que é mostrar aos eleitores o que foi feito no governo, tentando convencer as pessoas de que foi um bom trabalho. Essa é a principal novidade e desafio da campanha do Bolsonaro, ele terá que convencer o país de que seu trabalho merece ter continuidade”, reforça.

População insatisfeita dificulta reeleição

Para Guarnieri, no entanto, as pesquisas de opinião que sondam a avaliação da população sobre temas específicos da atualidade e das ações do governo, não estão favoráveis para as intenções de reeleição da gestão Bolsonaro.

“Várias dimensões do governo são avaliadas como ‘ruim’ ou ‘péssimo’. Entre elas, as que estão impactando mais é a condução da pandemia, inflação, desemprego, desempenho do país nas relações exteriores. O governo terá de responder por isso”, observa o especialista. 

Tornando ainda mais desafiadora a campanha, segundo Guarnieri, há poucas chances de que o PL e o Centrão consigam moderar o discurso do presidente. 

“O que Bolsonaro sempre fez, sobretudo em seus piores momentos, é apelar ao seu grupo de apoiadores mais fiéis. Para esse grupo o que conta é o discurso mais inflamado do presidente, e se ele perder esse grupo vai ficar com quem? É uma situação difícil”, avalia o cientista político.

Governo não focou na construção de agenda positiva

Na perspectiva de Villaverde, não há mais tempo hábil para que o governo emplaque uma agenda positiva o suficiente para alavancar Bolsonaro na disputa eleitoral. 

“A campanha que vislumbro é do ‘anti’, do ‘contra’, da reação, e não da construção. Ele sempre agiu contra as vacinas, contra o Supremo Tribunal Federal, contra a imprensa, contra o meio ambiente e líderes estrangeiros, contra sindicatos e movimentos sociais. É um governo do ‘contra tudo isso que está aí’, não é um governo de construção”, frisa o pesquisador.

“Bolsonaro está fadado a dobrar a aposta, ou seja, fazer mais uma campanha ‘do contra’ e tentar usar a chave do medo do comunismo. A única grande possibilidade eleitoral que ele tem é reacender o antipetismo, que também continua sendo uma força social, embora menos importante neste ano do que foi em 2018. Ele já venceu o PT uma vez”, reforça. 

Nova estratégia da campanha desenhada pelo Centrão

De acordo com Capitão Augusto, a estratégia desenhada pelo Centrão inclui a definição dos apoios estaduais, com candidatos alinhados com Bolsonaro.

“Ainda tem um monte de estado em aberto, não sabemos quem apoiaremos para governo e Senado em alguns estados. Agora é hora de acertos partidários estaduais”, afirmou.

Segundo a leitura de Guarnieri, essa é uma tática fundamental para a campanha de reeleição de Bolsonaro. 

“A tentativa de emplacar aliados e ministros nas eleições estaduais revela uma mudança necessária na estratégia do Bolsonaro para a disputa deste ano. Sem palanques nos estados, fica mais difícil fazer circular informações sobre a candidatura e propaganda do governo. Por isso os apoios dos estados são essenciais. Então colocar gente do próprio governo nesses palanques é uma estratégia condicional para o Bolsonaro”, nota o especialista.

Guarnieri também lembra que a própria direita não está totalmente alinhada com Bolsonaro, o que se demonstra na quantidade de candidatos que disputam a chamada “terceira via”. 

“As ameaças à reeleição de Bolsonaro também vêm do campo da direita, tem o [ex-ministro da Justiça Sérgio] Moro, o Doria, a Tabet. O eleitorado que não é tão bolsonarista e fiel a Bolsonaro, mas que votou nele em 2018 devido ao antipetismo, ao avaliar mal o governo, pode acabar votando em alguns desses candidatos da direita. Esses candidatos sabem disso e vão atacar o governo”, aponta.

Não é somente no campo da direita tradicional que há resistências a Bolsonaro, como destacado por Villaverde: “Só uma parte do Centrão aderiu ao governo para 2022. Há uma série de divisões, inclusive no PL, que é o partido do Bolsonaro, e no PP, que é o partido do Ciro Nogueira [ministro da Casa Civil] e do Arthur Lira [presidente da Câmara dos Deputados]. A parte do Centrão que não está com o governo, está muito contra o Bolsonaro”. 

Velha tática que assombra 2022: disparos de desinformação

O comportamento de “milícia digital”, que preza pelos disparos em massa de mensagens com conteúdo de ódio, desinformação e notícias falsas, está no radar das instituições eleitorais e plataformas de redes sociais, que prometem medidas de controle para as eleições deste ano.

O indicativo de atuação firme veio de quem estará organizando e conduzindo as eleições como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), assumirá a presidência do tribunal eleitoral em setembro, durante o período das campanhas. Ele já adiantou que a Justiça não será pega de surpresa em relação ao comportamento de milícia digital.  

De forma incisiva, o ministro disse que “se for repetido o que foi feito em 2018, o registro [do candidato] será cassado e as pessoas irão para cadeia por atentar contra as eleições e a democracia no Brasil”. A declaração foi feita durante o julgamento da cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, em outubro de 2021.

No entanto, apesar do clima de campanha já em curso, as instâncias da Justiça Eleitoral ainda não se manifestaram sobre publicações enganosas compartilhadas em larga escala pelo ministro do Turismo, Gilson Machado, ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles – que mantém o apoio a Bolsonaro e pretende concorrer à Câmara dos Deputados por São Paulo – no início da semana passada. 

Em seus perfis nas redes sociais, eles divulgaram montagens com logomarcas da imprensa tradicional para atestar que o chefe do Executivo federal foi o responsável por evitar a guerra entre Rússia e Ucrânia. Além das informações falsas, o conflito entre os países segue iminente.

“Lamentavelmente a arma da desinformação ainda pode e provavelmente será utilizada neste ano. Estamos mais atentos e maduros quanto a esse comportamento, certamente vai ser mais difícil fazer as fake news circularem e terão menos impacto do que tiveram em 2018, mas algum impacto vão ter. É improvável que o TSE consiga coibir e controlar as fake news”, observa João Villaverde.

“É também isso o que resta ao Bolsonaro. Como ele não tem ações positivas construídas por iniciativa própria, sem ser para atender emergências, por ele ter se dedicado ao ataque, resta a ele fazer uma nova versão da campanha de 2018 para tentar chegar ao segundo turno”, conclui o cientista político.

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Fonte: O tempo

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