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Rondônia, terça, 08 de outubro de 2024.




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Bússola Poder: o jornalismo na eleição


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O jornalista testemunha com relativa proximidade fatos históricos e convive com personagens que impactam a vida de milhões, para o bem ou para o mal. A proximidade acabou vertendo sobre alguns, a certeza de que também são importantes, porque relatam esses fatos a outros que os ignoram. Isso era mais notável em tempos que a internet e as mídias sociais ainda não existiam, e que mudou muito desde então.

Desde os primórdios, o jornalismo arrogou-se uma posição superior a outras atividades, tanto que aceitou com falsa modéstia o rótulo de “quarto poder”. O exercício da atividade nos torna, pelo uso do cachimbo, sócios majoritários da verdade. Para usar uma expressão isenta e imparcial, para dizer o mínimo. Um erro. Afinal, não somos proprietários únicos… as versões dificultam a plena posse e registro em cartório. O jornalista deveria ser, quando muito, posseiro de dúvidas e portador de interrogações.

O jornalismo teve historicamente muitos alvos nas suas origens panfletárias, mas corrigiu-se em certo momento, ou tentaram corrigi-lo pelo menos. Desde o surgimento das redes sociais, passou a receber também muitos petardos, alguns plenamente justificados. Até por causa das paixões que desperta em tratar de grandes personagens em momentos cruciais. As eleições para presidente da República, por exemplo.

Esta semana, o Jornal Nacional começou uma série de entrevistas com os principais candidatos ao Palácio do Planalto. E as redes virtuais materializaram a insociabilidade do ambiente aos jornalistas, ou aos seus críticos. Interessante notar como fenômeno para estudos acadêmicos — que certamente serão ignorados na práxis das redações, mas mesmo assim, não devem ser desconhecidos.

Os apresentadores dominam o cenário, recebem um candidato por vez e elaboram teorias, teses, perguntas e formulações de várias ordens para obter revelações sobre assuntos que devem interessar a sua audiência. Como os telejornais são guiados pelo sucesso junto ao público, certamente esse foi o guia para elaborar os questionamentos ou buscar declarações no sentido e direção que o sujeito da poltrona esperava.

Não é novidade que há cada vez mais questionamento aos meios de comunicação, aos jornalistas e a seus veículos nas novas mídias. Se algum dia se buscou um ponto de equilíbrio, mesmo que platonicamente, hoje há um afastamento dele. A atividade informativa deveria buscar caminhar entre as partes para assegurar uma certa neutralidade, mas não é o que ocorre. Esse movimento permite o juízo de valor, que contamina o noticiário e gera as reações. O jornalismo não tem conduzido o processo, pois humanamente tem sido levado junto com os fatos, arrastado por eles e por eles contaminado de acordo com visões parciais.

Nos últimos anos, a atividade foi francamente de oposição aos governos — a quase todos. Não que devam ser apoiadores, pelo contrário. Jornalismo não é militância. Deve ser crítico quando houver necessidade de crítica, ácida inclusive. Mas pode falar bem, quando houver merecimento, mesmo que seja raro.

Denúncias devem ser feitas, embasadas e respeitando os princípios de se ouvir o outro lado. Mas esse outro lado tem sido meio que comprimido nas linhas finais do texto, na última fala da reportagem, no menor espaço possível…

O equilíbrio no espaço de denúncias não tem sido norma aplicada no cotidiano dos acionistas majoritários da verdade. Os denunciados são francamente minoritários no tratamento da notícia. Algum tempo depois, vários são inocentados, com as investigações escandalosas se mostrando escândalos vazios e frágeis difamações. Quando se publica a inocência de empresários ou homens públicos, e se esclarece toda a confusão, poucas linhas são dedicadas a mostrar porque as manchetes iniciais foram equivocadas.

O jornalismo segue a lei Ricúpero: o que é bom se mostra, o que é ruim se esconde. Portanto, nunca exibe seus defeitos, mesmo que todos os estejam vendo. Em tempos eleitorais, o jornalismo também é tema de julgamento com as redes sociais decretando vereditos. E muitas vezes percebe-se que, se fosse a voto, o jornalista correria o risco de ficar fora do segundo turno.

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

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