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Rondônia, domingo, 06 de outubro de 2024.




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Márcio de Freitas: No fim, a covid derrubou Bolsonaro


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Com quase 690 mil mortos oficiais em razão da covid-19, a pandemia deixou um rastro de famílias destroçadas pelo Brasil. Muitas milhares de pessoas ainda sofrem sequelas, outros milhares correram sérios riscos de morrer. Certamente, mais de dois milhões de pessoas responsabilizam o presidente Jair Bolsonaro pelas graves consequências da pandemia no país. E foi esse o número que fez a diferença em favor da vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 30 de outubro.

A pergunta sobre a covid travou Bolsonaro várias vezes nos debates e entrevistas durante a campanha eleitoral. Ele articulava até uma resposta política, mas suas explicações não tinham sentido humanitário. Não convencia. Até tentou articular pedidos de desculpas para seu comportamento ao minimizar os sintomas, suas imitações de doentes e tentou justificar as falhas com a compra da vacina. Não convenceu.

A falta de empatia durante a mais grave crise epidemiológica do século 21 pesou em parte do eleitorado de forma significativa, cristalizando anticorpos contra os argumentos do discurso eleitoral governista. E a fatura da Covid chegou para Bolsonaro, enterrando a possibilidade de um segundo mandato consecutivo no Palácio do Planalto. O que lhe parecia uma gripezinha foi fatal.

Campanhas à reeleição tem o condão de despertar a memória do eleitor. E os adversários exploram os erros do incumbente ao disputar o cargo na cadeira para reavivar ainda mais as lembranças. A tradicional prestação de contas se transforma em cobrança ou mesmo em execução, como foi o caso.

Bolsonaro teve a máquina de governo na mão para tentar virar o jogo, e a usou fartamente. Mas o que impediu efetivamente sua vitória foi o fato de não a ter usado quando o povo esperava proteção, alguém que sinalizasse estar no comando do país, cuidando de tudo e todos – acima de qualquer outra prioridade.

A verdade é que, na pandemia, a máquina pública de Bolsonaro só andou empurrada; no caso da proteção para evitar o contágio quando era ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, ou pela vacina providenciada primeiro pelo ex-governador de São Paulo João Doria. A gastança social foi enviada pelos esforços do Congresso Nacional, que arrumou dinheiro fora do teto para governadores, prefeitos e para o auxílio emergencial salvador para conter uma crise econômica maior.

No auge da pandemia, mortos em féretros lacrados desciam em milhares às covas. Nunca houve uma visita presidencial pública a um hospital. Nenhum consolo às famílias. Nenhuma ação diferenciada do governo aos órfãos da pandemia. Aliás, os órfãos e as crianças afetadas nos seus tenros anos pela falta de escola ainda aguardam atenção do poder público.

O que poderia ter sido um colchão de popularidade se o presidente tivesse liderado o enfrentamento ao vírus, se tornou uma barreira elevada para atrair votos em outubro deste ano. E Bolsonaro encontrou esse obstáculo nas eleições, mesmo com a economia crescendo mais que o previsto, mesmo com empregos criados na casa de 250 mil/mês, mesmo com a queda da inflação… todo o sucesso na gestão dos números da economia não foi o suficiente para garantir a vitória.

É uma característica do personagem político de Jair Bolsonaro ser politicamente incorreto. Seus tempos de deputado federal têm inúmeros exemplos desse viés, e isso garante votações sempre maiores nos segmentos com os quais ele interagia de forma inusual. O padrão foi mantido na presidência e incorporou o voto antipetista ou antilulista. Mas a missão presidencial é falar à maioria. Não basta só se dirigir aos que concordam com suas teses. Não basta que só sejam contemplados os que concordam com o governante. Ao presidente é preciso avançar além das suas fileiras, colocar todos acima de suas convicções pessoais. Afinal, contribuintes somos todos – isenções à parte.

Essa lição é importante, não só ao governo Bolsonaro mas a qualquer governante. Todos os segmentos da sociedade merecem atenção e cuidados, e todos devem ser ouvidos. Afinal, o poder é do povo e este é indivisível na democracia. O anseio individual se perde no interesse maior da coletividade. O poder emana das maiorias e das minorias, com a mesma intensidade, mas diferentes quantidades. Ao governo cabe equilibrar essa equação. Quando isso não acontece, o povo escolhe democraticamente, e por maioria, outro governo.

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

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Fonte: Exame

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