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O futuro do trabalho chegou: essas 4 profissões não são conhecidas, mas já estão moldando o mercado
Com a evolução tecnológica e a mudança nas demandas da sociedade, algumas profissões pensadas para o futuro estão moldando um novo modelo no mercado de trabalho. Pequenas a grandes empresas estão investindo no desenvolvimento interno de suas áreas, inclusive em novas profissões, como uma estratégia adotada para acompanhar tendências, antecipar mudanças e preparar seu terreno para um futuro incerto e dinâmico.
Veja alguns cargos que estão ganhando espaço no mercado brasileiro – e que já impactam no seu consumo.
Travel Designer
O mercado de turismo de luxo está explodindo no Brasil. Por ano, o setor movimenta cerca de 2 bilhões de reais (BLTA-2022) e a previsão, segundo uma pesquisa da Consultoria Bain, é de que ele tenha um avanço de 6% até 2030.
Apesar do cenário positivo, agências de viagem de todos os portes enfrentam o mesmo problema: falta de mão de obra capacitada para atender um cliente tão exigente e com especificidades. Diante disso, o próprio setor se movimenta e busca formar seus próprios travel designers.
Esse profissional, a partir dos seus conhecimentos e especialização, cria itinerários sob medida, gerencia as reservas necessárias – como documentação, vistos, voos, acomodações, transportes, ingressos para eventos e atividades especiais – e, até mesmo, proporciona visitas privadas a lugares estratégicos e acesso VIP a eventos.
Um consultor nível sênior pode ganhar mais de R$ 20 mil e tem a oportunidade de conhecer os destinos, hotéis, restaurantes e companhias aéreas mais exclusivas do mundo – além de poder trabalhar de maneira remota, de qualquer lugar. É uma oportunidade para quem está ingressando no mercado de trabalho agora e já está matriculado em um curso de turismo, mas também é uma janela para outros profissionais que desejam mudar de carreira.
Gustavo Aranha apostou nesta área e de entregador de comida, se capacitou para hoje ser um dos travel designers da agência Tereza Perez. Desde criança, Aranha sentia uma conexão especial com o mundo das viagens, e essa paixão foi influenciada por um sonho que sua mãe não pôde realizar. “Ela sempre sonhou em ser aeromoça, mas a gravidez a fez adiar esse desejo. Cresci ouvindo suas histórias sobre lugares incríveis e culturas fascinantes, o que despertou em mim o desejo de explorar o mundo”, diz.
Um dos maiores desafios em ser travel designer, segundo Aranha, é equilibrar as expectativas dos clientes com a realidade do mercado de viagens.
“Muitas vezes, os clientes têm sonhos e desejos que podem ser difíceis de realizar dentro das limitações de tempo, orçamento ou disponibilidade. É preciso ter habilidades de comunicação para entender suas necessidades e, ao mesmo tempo, oferecer soluções criativas que atendam a essas expectativas.”
Outro desafio da profissão é estar sempre atualizado com as tendências e alterações nas políticas de viagem, afirma Aranha.
“Para ser um bom travel designer, algumas habilidades são essenciais como comunicação eficaz, organização, conhecimento de destinos, habilidades de resolução de problemas, flexibilidade e empatia”, diz. “Essas habilidades ajudam a construir relacionamentos sólidos com os clientes e a garantir que suas experiências de viagem sejam memoráveis”.
Aromistas
A profissão de aromista surgiu no início do século XX, conforme a indústria de fragrâncias e sabores começou a se desenvolver, mas tende a se tornar a profissão do futuro por alguns motivos. Primeiro que o interesse das pessoas por alimentos que promovam a saúde o bem-estar está crescendo, e nesta indústria o aromista tem o papel essencial.
“O aromista consegue, por exemplo, garantir o sabor dos alimentos mesmo com a redução de sal e gordura, e com a evolução tecnológica e o uso de IA, esse profissional será cada vez mais importante para refinar os dados utilizados”, afirma a engenheira Cecília Eichinger Strebe, aromista sênior da Duas Rodas, empresa onde trabalha há 40 anos.
Os aromistas são o grande ativo de empresas como a Duas Rodas, fabricante de aromas, essências, extratos naturais e outros ingredientes para a indústria alimentícia e de bebidas da América Latina. A companhia conta hoje com 15 aromistas sêniores com formações iniciais em engenharia de alimentos, químicos, nutricionistas e engenheiros de processo, por exemplo.
“Já no início do meu trabalho na área de pesquisa e desenvolvimento da Duas Rodas, fui me encantando e me apaixonando pela profissão de criação de aromas. Percebi que tudo o que consumíamos tinha o trabalho de aromas para deixar os alimentos e bebidas mais saborosos”, diz Strebe.
Para se tornar um aromista sênior a formação pode durar de 4 e 12 anos e é preciso ser capaz de identificar um sabor, uma nuance ou acidez em uma gama de mais de 4.500 matérias-primas. “Conseguimos compor um aroma com notas diversas como frescas, grelhadas, um sabor de carne assada, um morango com notas verdinhas para um chiclete ou lácteas para um iogurte”, afirma a aromista da Duas Rodas.
Para alcançar o cargo sênior e se manter na empresa há mais de 3 décadas, Strebe precisou de especializar e aproveitou os treinamentos internos para conhecer as matérias-primas, os processos e seus usos.
“Um aromista na Duas Rodas tem que conhecer todas as características sensoriais de mais de 3 mil matérias-primas, então, não é uma tarefa fácil essa memorização. Mas ao mesmo tempo é muito gratificante ver que um produto que você desenvolveu está sendo bem aceito e apreciado pelos consumidores”, diz Streb.
Para ser um aromista de destaque no mercado de trabalho, Strebe afirma que é preciso gostar de pesquisar, de conhecer novas matérias-primas, de estar sempre atualizado com as novas tecnologias e tendências de consumo.
“O aromista é um alquimista do sabor, por isso é um profissional que precisa ser muito criativo e persistente, afinal não é uma tarefa fácil memorizar as características de mais de 3 mil matérias-primas”, afirma.
Meteorologista que faz previsão para 20 anos
A Eldorado Brasil Celulose, produtoras de celulose, investe na profissão de meteorologista, mas não aquele que faz uma previsão do tempo tradicional. Na empresa, esse profissional trabalha com um longo horizonte temporal, para traçar modelagens atmosféricas. Isso acaba sendo determinante para o tipo de clone de muda de eucalipto que melhor vai se adaptar às condições climáticas futuras. Os ciclos podem ser, por exemplo, de 14 e 20 anos.
O tema dos clones de eucalipto é essencial na produção de celulose, já que garante a continuidade da oferta de madeira para a operação da fábrica o ano inteiro. As previsões de longo prazo são ainda mais desafiadoras em um contexto de mudanças climáticas mais severas, fazendo com que os prognósticos sejam cruciais para a indústria de celulose.
Vagna Pereira é pesquisadora e especialista em Ecofisiologia e Meteorologia Florestal na Eldorado Brasil Celulose desde 2019. Sua atuação tem por objetivo projetar cenários climatológicos de médio e longo prazo que podem se estender por até 40 anos.
“O interesse pela ecofisiologia e meteorologia florestal surgiu do desejo de compreender como as florestas interagem com o clima e como essa relação pode ser otimizada para a produção sustentável”, diz Pereira. “O fator climático é crucial para determinar quais clones de eucalipto melhor se adaptarão às condições locais, tornando-se vital para garantir a sustentabilidade da produção de celulose.”
Como o Brasil é o maior produtor de celulose do mundo, projetar cenários climáticos confiáveis é um desafio estratégico para a indústria. Com as mudanças climáticas se tornando cada vez mais severas, a tarefa de prever como as plantações de eucalipto irão responder a essas mudanças é complexa e essencial para a continuidade e eficiência da operação da fábrica ao longo do ano, afirma Pereira, que é graduada em Agronomia e possui mestrado e doutorado em Agronomia com ênfase em Meteorologia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa.
“Para ser uma meteorologista florestal é preciso ter um profundo conhecimento em ecofisiologia, meteorologia e modelagem climática, além de capacidade para interpretar dados complexos e traduzi-los em estratégias práticas. Além disso, habilidades como pensamento crítico, capacidade de adaptação a cenários dinâmicos e uma abordagem interdisciplinar são indispensáveis”, afirma Pereira.
Profissionais que ensinam a IA
A Sólides, empresa de tecnologia para gestão de pessoas para PMEs, recentemente anunciou novo diretor de Inteligência Artificial (CAIO, na sigla em inglês). No novo cargo, o executivo Wladmir Brandão ficará encarregado de estabelecer e executar a estratégia de IA da Sólides, liderando equipes especializadas neste tipo de tecnologia para acelerar a inovação nos produtos e soluções.
O cargo exige habilidades técnicas que precisam ser desenvolvidas por profissionais de tecnologia com foco em Ciência de Dados e Inteligência Artificial, desde o domínio de algoritmos, estruturas de dados e linguagens de programação até técnicas de engenharia de dados e aprendizagem de máquina.
“Essas habilidades vão evoluindo ao longo do tempo, por isso a importância da aprendizagem contínua”, diz Brandão que é formado em Ciências da Computação.
Do ponto de vista das soft skills, Brandão destaca a criatividade, resiliência, capacidade analítica e de concentração para trabalhar nesta função.
A VidMob, plataforma global de desempenho criativo com base em IA, também está apostando na nova tecnologia com um time de creative intelligence. São profissionais capacitados a entender e transformar em insights acionáveis as análises de imagens produzidas pela IA.
O sistema de Inteligência Artificial da empresa realiza uma espécie de decupagem frame a frame de vídeos publicitários, identificando todos os elementos de cada cena, como a existência ou não de pessoas, a posição delas, se estão ao ar livre ou em um ambiente fechado, se estão sorrindo, se há plantas ou animais e todas as possíveis informações da imagem – que, mais tarde, são cruzadas com informações sobre o comportamento da audiência enquanto assiste ao mesmo vídeo em diferentes redes sociais.
Para essa profissão, é necessário, portanto, estar aberto a mudanças e seguir atentamente as tendências das plataformas de mídia, redes sociais e creator economy, afirma Mariana Lagares, diretora estratégia criativa latam da Vidmob.
“É preciso se envolver e entender o movimento das tecnologias, assim como o que as novas gerações consomem, investem e produzem. Também não podemos deixar de entender os desafios relacionados à geração mais antiga, que também consome novas mídias, mas de forma diferente. Resumindo, é preciso ter a cabeça aberta ao novo, ao recomeço e ao inesperado”, diz Lagares.
Fonte: Exame